(Richard Dawkins)
Vantagens Directas da Religião
Há poucas provas de que a crença
religiosa proteja as pessoas de doenças relacionadas com o stress mas não
surpreenderia se fosse verdade, pela mesma razão que a cura pela fé poderá
acontecer em determinados casos sem que tal reforce o verdadeiro valor das
pretensões da religião.
Nas palavras de George Bernard Shaw: «o facto de um crente ser mais feliz do que um céptico não é
mais relevante do que o facto de um homem bêbado ser mais feliz do que um sóbrio»
O meu médico não pratica,
literalmente, a cura pela fé, através da imposição das mãos, mas muito foram as
vezes em que me senti instantaneamente “curado” de pequenos males por uma voz
tranqui lizadora que vinha de um
rosto ladeado por um estetoscópio.
O efeito placebo (do latim “placer”
que significa agradar) está bem documentado e nem sequer é muito misterioso. Está
demonstrado, por exemplo, que se consegue melhorar a saúde ministrando
comprimidos sem qualquer actividade farmacológica.
É por isto que os
medicamentos homeopáticos parecem resultar embora a substância activa esteja tão
diluída que é como se não a tivessem. Os homeopatas parecem estar a obter um êxito relativo porque lhes é
permitido administrarem placebos embora com outros nomes. Por outro lado dispõem
de mais tempo para conversarem com o doente e dedicar-lhe atenção. Acontece
também, garantidamente, que os seus medicamentos não fazem absolutamente nada,
ao contrário de certas práticas ou remédios da medicina convencional que podem
causar danos efectivos.
Daqui ,
poder perguntar-se se a religião pode ser olhada como um placebo que prolonga a
vida ao reduzir o stress. Talvez, mas não podemos esquecer que em muitas
circunstâncias a religião provoca mais stress do que aquele que liberta.
Na realidade, é difícil
acreditar, por exemplo, que a saúde possa melhorar em face do estado
semi-permanente de culpa mórbida de que padece um católico apostólico romano
portador de uma normal debilidade humana e de uma inteligência inferior ao
normal.
Talvez seja injusto destacar
os católicos. A comediante americana Cathy Ladman, escritora de grande sucesso
observa que «todas as religiões são iguais: a religião
é, basicamente, culpa com feriados diferentes».
Não penso que o motivo pelo
qual temos religião seja porque ela reduziu o nível de stress dos nossos
antepassados. A religião é um fenómeno vasto que carece de uma teoria vasta
para o explicar.
Há também quem defenda que a
religião é consoladora. Talvez exista nisto alguma verdade psicológica
mas em termos de evolução darwiniana não faz sentido. Como Steven Pinker (psicólogo
canadense e cientista cognitivo) disse de forma contundente no seu livro How
the Mind Works: «porque haveria uma mente de evoluir se
era para encontrar conforto em crenças que se sabem ser claramente falsas?»
Se um neurocientista
encontrar um “centro-deus” no cérebro os cientistas darwinianos como eu hão-de,
mesmo assim, querer perceber qual a pressão da selecção natural que favoreceu
tal ocorrência. Porque razão é que os nossos antepassados com tendência genética
para desenvolverem um centro-deus no seu cérebro, sobreviveram de maneira a
terem mais netos do que os rivais que não tinham essa tendência?
(continua)
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