segunda-feira, agosto 27, 2012


As Raízes da Religião (continuação)
(Richard Dawkins)

Vantagens Directas da Religião

Há poucas provas de que a crença religiosa proteja as pessoas de doenças relacionadas com o stress mas não surpreenderia se fosse verdade, pela mesma razão que a cura pela fé poderá acontecer em determinados casos sem que tal reforce o verdadeiro valor das pretensões da religião.

Nas palavras de George Bernard Shaw: «o facto de um crente ser mais feliz do que um céptico não é mais relevante do que o facto de um homem bêbado ser mais feliz do que um sóbrio»

O meu médico não pratica, literalmente, a cura pela fé, através da imposição das mãos, mas muito foram as vezes em que me senti instantaneamente “curado” de pequenos males por uma voz tranquilizadora que vinha de um rosto ladeado por um estetoscópio.

O efeito placebo (do latim “placer” que significa agradar) está bem documentado e nem sequer é muito misterioso. Está demonstrado, por exemplo, que se consegue melhorar a saúde ministrando comprimidos sem qualquer actividade farmacológica.

É por isto que os medicamentos homeopáticos parecem resultar embora a substância activa esteja tão diluída que é como se não a tivessem. Os homeopatas parecem  estar a obter um êxito relativo porque lhes é permitido administrarem placebos embora com outros nomes. Por outro lado dispõem de mais tempo para conversarem com o doente e dedicar-lhe atenção. Acontece também, garantidamente, que os seus medicamentos não fazem absolutamente nada, ao contrário de certas práticas ou remédios da medicina convencional que podem causar danos efectivos.

Daqui, poder perguntar-se se a religião pode ser olhada como um placebo que prolonga a vida ao reduzir o stress. Talvez, mas não podemos esquecer que em muitas circunstâncias a religião provoca mais stress do que aquele que liberta.

Na realidade, é difícil acreditar, por exemplo, que a saúde possa melhorar em face do estado semi-permanente de culpa mórbida de que padece um católico apostólico romano portador de uma normal debilidade humana e de uma inteligência inferior ao normal.

Talvez seja injusto destacar os católicos. A comediante americana Cathy Ladman, escritora de grande sucesso observa que «todas as religiões são iguais: a religião é, basicamente, culpa com feriados diferentes».

Não penso que o motivo pelo qual temos religião seja porque ela reduziu o nível de stress dos nossos antepassados. A religião é um fenómeno vasto que carece de uma teoria vasta para o explicar.

Há também quem defenda que a religião é consoladora. Talvez exista nisto alguma verdade psicológica mas em termos de evolução darwiniana não faz sentido. Como Steven Pinker (psicólogo canadense e cientista cognitivo) disse de forma contundente no seu livro How the Mind Works: «porque haveria uma mente de evoluir se era para encontrar conforto em crenças que se sabem ser claramente falsas?»

Se um neurocientista encontrar um “centro-deus” no cérebro os cientistas darwinianos como eu hão-de, mesmo assim, querer perceber qual a pressão da selecção natural que favoreceu tal ocorrência. Porque razão é que os nossos antepassados com tendência genética para desenvolverem um centro-deus no seu cérebro, sobreviveram de maneira a terem mais netos do que os rivais que não tinham essa tendência?
(continua)


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