domingo, agosto 19, 2012


HOJE É DOMINGO
(Da Minha Cidade de Santarém)

Parece que a crise e as dificuldades nos estão a empurrar para um acréscimo de religiosidade fazendo acorrer mais pessoas aos centros de peregrinação a solicitarem protecção e auxílio divino. É uma repetição do que sempre se passou em outras épocas de crise e dificuldades.

São situações dramáticas aquelas em que as pessoas caíram, aqui, em Portugal, mas também na Grécia e na Espanha, países onde os níveis de desemprego atingiram valores mais altos. Todos nós somos capazes de viver com menos dinheiro mas não sem dinheiro algum. Chegados a este ponto resta o apoio da família e o das Instituições de Solidariedade.

O desemprego é uma doença social em que o gérmen é o próprio homem com as suas decisões ao nível da governação dos países e da administração, controle e regulamentação da actividade económica e financeira.

O desemprego é daqueles males em que mais nitidamente se percebe “a mão” do homem e menos cabimento tem o recurso às peregrinações aos locais de fé.

No caso de certas maleitas, todos nós sabemos que uma forte intervenção do nosso psiquismo através de um sentimento de fé muito profundo permite ao nosso corpo operar autênticos “milagres” mas, o desemprego, não é um mal do corpo é da sociedade e, desta vez, de uma sociedade muito alargada que atinge, principalmente, certos países na Europa mas diz respeito a todo o continente e afectará todo o mundo civilizado.

Mas no seu desespero, o recurso à intervenção divina é ainda em certos sectores mais crentes da população, o último recurso.
Quando tudo corre bem deixa-se para lá a fé e a crença mas quando a crise aperta, “ai Jesus quem me ajuda…”.
 Se tudo está bem é porque Deus nos ajuda, sinal que está atento aos nossos problemas e não são precisas grandes lamentações…o trivial das orações, quando é.

A relação com a crença religiosa tem destas coisas, traduzida no velho ditado de que “só nos lembramos de Santa Bárbara quando faz trovoada…”. Esquecemos ou lembramos conforme as nossas conveniências. É uma relação oportunista, de pouca honestidade intelectual e perigosa porque significa que colocamos a nossa vida na dependência de «alguém», descurando o trabalho e a procura de soluções, ao sabor de outras vontades ou de outros humores.


Isto é o que acontece quando se vive «a vontade de Deus», acreditando que o que acontece no mundo é da responsabilidade Dele. É uma concepção histórica, chamada "Providencial": a crença de que Deus é o verdadeiro protagonista, o sujeito da história e que os seres humanos são apenas ferramentas em suas mãos.

Para o Providencialismo, Deus é justo quando nos sucedem coisas boas na vida. Se acontecem coisas más é porque Ele nos está a sujeitar a "testes" para ver se somos verdadeiramente fiéis aguentando as provações sem o renegar.

Para o Providencialismo, o tempo humano, a história, não têm valor e as recompensas ou castigos reais só acontecerão fora do tempo, na eternidade. Para o Providencial, "os caminhos de Deus são imperscrutáveis" e o homem não pode entendê-los, nem questioná-los.

Muitos ditados populares e provérbios expressam a cultura Providencialista religiosa, tradicional: - "O que é teu ninguém o pode tirar"; "Deus proverá";  "Uma árvore que nasce torta nunca se endireitará”...

Outros matizam com sentido idêntico esse fatalismo: - "A quem madruga Deus ajuda”, ou o seu contrário: “Não é por muito madrugar que amanhece mais cedo”.

Existem também ideias, nascidas das filosofias orientais que fazem eco nas palavras de Jesus "A cada dia basta-lhe o seu afã”.

 Atribuída ao Dalai Lama há o seguinte ditado: "Há apenas dois dias no ano em que não podes fazer nada. Um deles se chama ontem e o outro amanhã. Então, hoje é o dia em que podes fazer alguma coisa, o único em que podes viver".

Questionar este sentido Providencial da vida é, para os católicos, uma exigência maior nestes tempos de dificuldades quando o conformismo é mais perigoso. Ao estilo do Dalai Lama eu diria: “lembrar o dia de ontem, pensar o dia de amanhã e começar a agir hoje.”


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