quinta-feira, setembro 13, 2012


ENTREVISTA FICCIONADA
COM JESUS Nº 65 SOBRE O TEMA:
“COMPARTILHAR O PÃO?”


RAQUEL -  Continuamos na igreja do Cenáculo, e pelo telemóvel estamos recebendo múltiplas mensagens. Uns felicitam-nos, outros se indignam. Também nos chegam muitas perguntas. Há um momento atrás e fora dos microfones, o senhor, Jesus Cristo, fazia-nos um comentário irónico. Poderia repeti-lo?

JESUS -    Eu dizia-te, Raquel, que se a gente tivesse suspeitado da confusão que se iria armar a partir do que comemos naquela última ceia… melhor seria que tivéssemos ficado em jejum!

RAQUEL - Brincadeiras à parte, o senhor  referiu-se antes a São Paulo e a uma situação ocorrida na comunidade, creio que me disse, sobre Corinto. O que aconteceu exactamente lá?

JESUS -    Eu não vi, porque já tinha partido. Mas contaram-me.

RAQUEL -  E o que lhe contaram que tanto o impressionou?

JESUS -    Pois acontece que nessa cidade de Corinto, que eu nem sei onde fica, parece que se reuniam para dar graças a Deus e enquanto uns comiam e se fartavam, outros ficavam com fome. Paulo os repreendeu e com toda razão. Que comunidade pode ser essa onde há ricos e pobres? Que Páscoa vão celebrar juntos Moisés e o Faraó, os oprimidos junto aos opressores?

RAQUEL -  Pois é melhor nem se aproximar de algumas igrejas cristãs porque o senhor vai ter muitas surpresas... Assentos na primeira fila reservados para as autoridades, para os militares, para as famílias mais ricas, os brancos na frente, os negros atrás, os brancos na frente, os índios atrás.

JESUS - Fazem isso?

RAQUEL - Pior. Dão o pão consagrado a ditadores, a assassinos e a torturadores, e o negam às mulheres só por se terem divorciado.

JESUS - Fazem isso?

RAQUEL -  Se o senhor soubesse…

JESUS -    Tu, Raquel, falavas antes sobre a substância. A substância que tem de mudar não é a do pão, mas a do coração. Um coração novo, capaz de amar, de compartilhar.

RAQUEL -  Mas, diga-me uma coisa, Jesus Cristo. Se o senhor não instituiu a eucaristia naquela Quinta-Feira Santa, o que fazem os sacerdotes em seu nome quando celebram a missa?

JESUS - Imagino que proclamem a boa notícia aos pobres. Isso é, o que eu quero que façam em minha memória.

RAQUEL - E as palavras mágicas, digo, misteriosas, que dizem os sacerdotes para que Deus baixe do céu, para que aterre no altar, se oculte na hóstia e se esconda em um sacrário?

JESUS -    Tu és uma pessoa inteligente, Raquel. Deus deu-te razão e coração. Aos ouvintes da tua emissora também. Tu acreditas que Deus, que não cabe no universo, que não tem princípio nem fim, vai se prestar a um truque assim? Como seria pequeno esse deus, um deus de abracadabra, como aquele feiticeiro que Felipe encontrou em Samaria!

RAQUEL -  Se eu compreendi bem as suas palavras, o senhor põe por terra teologias eucarísticas, bibliotecas  procissões com o Santíssimo Sacramento, custódias, cálices, adorações perpétuas, cantemos ao amor dos amores, o Concílio de Trento e a missa aos domingos.

JESUS - Escutas, Raquel?... É o vento. Não podes prendê-lo, porque sopra onde quer. Tampouco se pode prender Deus num templo, nem num pedaço de pão, nem em numa taça de vinho.

RAQUEL - Tenho mil perguntas, mas já não sei mais o que te perguntar.

JESUS - Deus revelou o maior no mais simples, Raquel. No pão, tem pão. No vinho, tem vinho. E na comunidade, quando se partilham esse pão e esse vinho, quando tudo se põe em comum, Deus faz -se presente.

RAQUEL -  Amigas e amigos, não percam a fé, quero dizer, não percam a sintonia e continuem connosco.  De Jerusalém, para Emissoras Latinas, Raquel Pérez.

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