O Futuro do Homem |
O Futuro do Homem
O futuro do homem no plano genético é
muito pouco interessante pois não é provável que venham a acontecer grandes
mudanças como as que ocorreram nos últimos 100.000.
A força que muda a nossa biologia é a selecção natural que age através das diferenças entre a mortalidade e a fertilidade entre os indivíduos mas, como a medicina quase que aboliu a mortalidade antes da idade reproductiva, se todas as famílias tiverem dois filhos e nenhuma mortalidade antes da procriação, a selecção natural, pura e simplesmente, desaparecerá por completo.
As forças da evolução foram
completamente mudadas pelos desenvolvimentos dos últimos 10.000 anos com a
invenção da agricultura e a criação de animais e, como em todas as aplicações,
pode haver efeitos colaterais nocivos cabendo ao homem direccioná-los.
Não há dúvidas de que os resultados
alcançados pela agricultura e criação de animais permitiram ultrapassar uma
crise, mas prepararam outras.
Por exemplo, a pastagem
indiscriminada de cabras, ovelhas e até de bovinos em ambientes secos e de
solos frágeis determinou rapidamente uma transformação irreversível e o deserto
do Sara foi e continua a ser uma consequência destes erros.
A Mesopotâmia foi em tempos de uma
fertilidade lendária mas os terrenos foram vítimas da salinização devido a
irrigações para fins agrícolas e o resultado foi, mais uma vez, a
desertificação parcial.
Da mesma forma, o uso militar do
cavalo não podia ter tido outro efeito que não fosse a propagação da guerra
numa revolução comparável à da invenção das armas de fogo.
Mas, no plano genético, a grande
mudança que está para acontecer na espécie humana tem a ver com as migrações
que conduzem a uma mestiçagem contínua e complexa.
No final deste processo, se ele
continuar, como tudo leva a crer, ter-se-á uma humanidade que, num determinado
aspecto, apresentará menos diferenças entre os grupos à custa de uma maior
diferença entre os indivíduos no seio de cada grupo.
Haverá, por isso, menos razões para o
racismo o que será, em si mesmo, uma vantagem, mas resulta da simples
observação que as taxas de reprodução são muito diferentes entre os vários
grupos étnicos,
Os europeus estão demograficamente
estacionários ou em perda, enquanto que a população de muitos dos países
subdesenvolvidos ou em vias de desenvolvimento está a aumentar a um ritmo que
nunca se viu.
De acordo com os dados da ONU, no
nosso planeta vivem 6,5 milhares de milhões de pessoas, e 75% delas em países
subdesenvolvidos com menos de 2 dólares por dia.
Considerando a década de 1995 a 2005 a variação da população
registada nos diferentes continentes foi a seguinte:
- Europa………………………………………… - O,36%
- América do Norte (Canadá e EUA)… +
9,8%
-América Latina…………………………… + 13,8%
- África…………………………………………. + 20,4%
- Ásia……………………………………………. +12,1%
Parece, pois, que os tipos louros e
de pele clara estão a diminuir a frequência relativa num mundo que deve
aprender a não se multiplicar e, por outro lado, parece indesmentível que a
capacidade de controle da natalidade varia na razão inversa dos níveis de
desenvolvimento, bem estar e educação dos povos.
Mas o futuro cultural do homem está
em pleno desenvolvimento e de certo irá acentuar-se nos tempos vindouros em
consequência de uma verdadeira explosão tecnológica no sector das comunicações.
Uma parte importante deste
desenvolvimento vem dos computadores que funcionam como uma extensão do nosso
cérebro que ajuda a memória e a nossa capacidade de efectuar cálculos
numéricos.
Em todo o caso, a comunicação entre
os indivíduos está limitada, como no tempo do paleolítico, pelas barreiras
linguísticas muito tenazes entre as sociedades humanas.
A tendência geral é para a diminuição
do número de línguas faladas, muitas em extinção, e para o aumento de pessoas
capazes de falarem correntemente, para além da língua materna, pelo menos uma
das línguas mais comuns.
A língua mais falada no mundo é o
Chinês, mais de mil milhões de pessoas, e a seguir o inglês com a
particularidade de que mais de um terço das pessoas que o falam fazem-no como
segunda língua ou língua estrangeira aprendida.
Seguem-se as línguas espanhola, o
Hindi, falada por 70% dos indianos, e em igual posição, o Árabe, o Bengali e o
Russo.
Talvez o computador venha a tornar
mais fácil no futuro a tradução mas, por enquanto, ainda estamos longe.
Contudo, as dificuldades de
comunicação não constituem o problema mais grave do mundo, outros existem, de
natureza social, bem piores, como sejam:
- O número de pessoas vivendo abaixo
do nível de pobreza, a ignorância, o crescimento demasiado rápido das
populações, o racismo, o abuso das drogas e mais recentemente o terrorismo.
Muitos destes problemas
correlacionam-se e interagem agravando os resultados e dificultando as
soluções.
O fortíssimo aumento demográfico nos
países mais pobres é uma consequência de descobertas médicas que reduziram
drasticamente a mortalidade infantil sem que tenha havido uma diminuição dos
nascimentos que compensasse.
Os programas sociais foram
desadequados e estão na origem de profundos desequi líbrios
e sofrimentos.
A única esperança reside na educação
e aqui os modernos meios de
comunicação abrem grandes possibilidades mas ainda estamos longe de os saber
utilizar de modo eficaz e com objectivo educativo.
As religiões, infelizmente, também se
esquecem muitas vezes da sua missão de paz social, transformando-se em adeptas
de extremismos preocupantes.
É muito provável que a causa mais
importante do actual mal estar seja precisamente o crescimento demográfico
excessivo em muitas partes do mundo mas poucas são as religiões que se
preocupam com isso, também porque consideram que dar apoio a campanhas de
controle dos nascimentos poderia constituir um perigo contra os seus próprios
interesses.
Em certo sentido, várias religiões e
outras entidades que têm papel fundamental na sociedade humana, mostram uma
confiança excessiva numa forma de “darwinismo social” que o próprio Darwin
nunca aceitou.
Pensar que as relações sociais podem
ser entendidas como uma forma de selecção natural numa luta de vida ou de morte
é uma visão apocalíptica que poderá ter a ver com a luta pela sobrevivência
entre presa e predador mas não para uma competição entre indivíduos da mesma
espécie em que a selecção natural gera facilmente comportamentos corporativos e
altruístas.
Mas, atenção, esse risco de competição
não será importante se a densidade populacional não for excessiva e, neste
aspecto, o comportamento reprodutivo na Europa está francamente em descida mas
o resto do mundo tem de seguir rapidamente o exemplo.
É tarefa de toda a humanidade
prevenir os desenvolvimentos perigosos que possam derivar das suas
potencialidades económicas, tecnológicas e do conhecimento porque só aprendendo
a prever é que é possível gerar medidas de controlo que as possam evitar.
Estamos a chegar a um ponto em que
nos apetece pedir à humanidade que pare um pouco para pensar… porque nos
sentimos apreensivos, porque já andámos muito nesta longa caminhada de tantos
milhares de anos, porque já alcançamos tantas coisas e obtivemos tantas
vitórias no que se refere ao respeito que nos é devido por nós próprios e, no
entanto, olhamos para os jornais e muitas coisas que lá vemos reconduzem-nos ao
ponto zero e outras fazem-nos recuar centenas de anos.
Ao longo do processo evolutivo
desenvolvemos características que nos permitiram uma vitória improvável na luta
pela sobrevivência.
Não nos esqueçamos de como tudo começou e de como éramos tão frágeis à partida:
Relembremos:
- Há 10 milhões de anos o planeta estava coberto de florestas e nesses imensos dosséis que pegavam uns nos outros, várias espécies de macacos viviam com todo o à vontade, passando de árvore para árvore sem sequer terem necessidade de descer ao solo.
Mas um acidente geológico ao longo do continente africano, na parte leste, que deu lugar ao Vale do Rift, levou a que as condições climáticas se alterassem e abrissem clareiras afastando as árvores umas das outras obrigando os macacos a descerem para se poderem movimentar. Entretanto, nessas clareiras, começou a nascer erva, constituindo-se um novo ambiente.
Entre os macacos obrigados a descer das árvores e a caminhar no terreno coberto de ervas estavam os nossos antepassados pois há provas de que há 4,2 milhões de anos alguns deles adoptaram uma posição bípede e esta foi a primeira condição para se chegar à humanidade muito mais tarde.
Estávamos à beira do lago Turkana, o maior lago africano, do tamanho da Líbia, actual Quénia, e onde se localiza o maior depósito de fósseis humanos, procurados e estudados por várias gerações de cientistas aproveitando os recentes avanços tecnológicos no campo da genética e de muitos ramos da ciência moderna com conclusões extraordinárias:
- Todos somos africanos e todos saímos daquele local, à cerca de 70.000 anos, atravessando o Mar Vermelho, com um nível de águas então muito mais baixo.Uns foram para Norte e chegaram à Europa. Os restantes dirigiram-se para Leste na direcção do continente Asiático.
Depois da posição bípede quais foram as restantes características que tendo surgido permitiram este processo de evolução?
a) - A linguagem ou a emissão de sons que permitiram a comunicação entre os membros do grupo:
b) - Um tipo de inteligência que permitiu idealizar, conceber no abstracto para a construção de utensílios. Foi possível reconstruir a partir de setenta bocados, encontrados onde foi trabalhada,uma pedra, à qual foi retirada pelo artesão um pedaço extremamente cortante e manipulável que permitia retirar a carne e raspar as peles dos animais que caçavam para se alimentarem;
c) - Finalmente, uma última característica foi necessária: sentimentos de solidariedade, amor e carinho - O "rapaz de Turkana", com mais de um milhão de anos, que tinha um grave defeito no esqueleto que o incapacitava de caçar e alimentar, só sobreviveu porque os seus companheiros de grupo trataram dele.
Encontradas estas características quis o acaso e a vontade dos nossos antepassados que tivéssemos chegado até aqui... hoje mais sós, mais entregues a nós próprios, perdido o espírito da tribo que nos dava segurança e que era, também ele, a nossa própria razão de ser sem a qual a nossa vida não só era impensável como impossível.
À medida que caminhámos para a aldeia global os desafios adquiriram cada vez uma maior dimensão. Temos a nosso favor conhecimentos científicos que eram impensáveis há umas dúzias de anos atrás e, no entanto, repetimos, no plano social e político, erros crassos de criança permanentemente desatenta.
A tribo já não existe tendo sido substituída por uma sociedade de tal forma complexa que em muitos aspectos deixámos de a compreender. Impõe-se uma tomada de consciência
colectiva sobre tudo aqui lo que já
conseguimos e é consensual no mundo, servido por uma determinação assente em
organizações de âmbito mundial com força e prestígio indiscutíveis.
O mundo tem que ser regulado e posto
ao serviço dos valores da cidadania e sobre esses valores já ninguém tem
dúvidas, o que existe são fragilidades intrínsecas ao próprio homem na sua
implantação.
Por vezes julgamos que estamos
próximos…quase que lá chegámos…pelo menos estamos no bom caminho… mas é mais a
nossa boa vontade… porque não conseguimos deixar de sentir que o desalinho na
nossa caminhada para o futuro traduz-se num grau de incerteza e de ansiedade.
Será que é possível reencontrar o
“espírito” da tribo no mundo global?
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