Episódio Nº 94
- Não faz mal… Mesmo velha serve…
António Balduíno se
levantou em cima do braço:
- Eu estou maginando aqui
dentro – batia na cabeça – que vocês são todos uns bestas… o Gordo tem uma avó,
é mesmo…
E o Gordo tem um anjo da
guarda… O Gordo tem coisa que ninguém tem… o Gordo é bom, vocês não sabe…
O gordo se atrapalhava. Os
homens estavam calados e a moça olhava agora com espanto.
- O Gordo é bom, a gente é ruim… O Gordo…
Ficou olhando as
plantações de fumo que se perdiam de vista.
Ricardo murmurou:
- Mesmo velha eu comia…
Mas a mulher, antes de
entrar na sua casa, chegou para perto do Gordo e pediu:
- Você reza pra mim? Reze pró anjo fazer
António arranjar uns cobres pra gente ir prás fazendas de cacau – Olhou as
folhas de fumo – Lá tem dinheiro de fazer medo…
Ricardo disse:
- Esse ano o trabalho está
pesado… A safra é grande e seu Zéqui nha
não bota mais gente… Nem sei como botou vocês dois…
- A gente tava quase morta de fome em
cachoeira
- Esse ano o trabalho está pesado… A safra é
grande e seu Zèqui nha não bota mais
gente… Nem sei como botou vocês dois…
- A gente tava quase morta de fome em
cachoeira… Por isso a gente veio…
- Para ganhar dez tões por dia…
Um jumento zurrou no campo.
António Balduíno disse pró velho que vinha de casa, comendo:
- Cumprimenta teu pai,
velho, que está reclamando…
- E tu não pede a bênção a teu avô? Olha que
eu conheci tua mãe…
Riram. António Balduíno
baixou a voz:
- Deixe lá que sinhá Totonha é um pedaço…
- Se neta com ela pra ver…
António tem quatro morte no costado… Ele não brinca nem erra fogo…
- Eu sei é que tou seco…
Dois meses sem mulher…
O velho riu. Ricardo olhou
com raiva:
- Você ri porque é casado… Tem mulher… Pode
ser um couro mas é mulher… E eu que já faz quase um ano que não vejo uma égua
na cama…
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