quinta-feira, dezembro 05, 2013

Evolução para Todos
(David Sloan Wilson)

(continuação)







Outro camponês respondeu com eloquência à última pergunta, replicando:

 - «Que posso dizer sobre o meu coração? Como posso falar do meu carácter? Pergunte aos outros; eles podem falar-lhe de mim. Eu mesmo não sei dizer nada»

Estas respostas reflectem a tremenda necessidade das pessoas das sociedades orais de usarem a cabeça para fins práticos. Abstracções como “círculo”, “ferramenta” ou o “género de pessoa que sou” são luxos que só se tornam úteis no contexto de uma sociedade organizada pela escrita.

A paragem seguinte da nossa viagem é nos Estados Unidos e o nosso guia é Richard Nisbett, um eminente psicólogo social cujo interesse na evolução cultural despertou devido a uma sua experiência de juventude.

Nascido e criado no Texas, a Sul, mudou-se para Massachusetts, na costa leste a Norte, e a diferença cultural entre as duas regiões saltou-lhe à vista.

O Sul é conhecido pela sua gentileza e hospitalidade, mas também pela sua violência.

Ao longo da história americana, as rixas, os duelos e os linchamentos têm tido lugar principalmente no Sul. Segundo uma estimativa, a taxa de homicídios para os planaltos das montanhas Cumberland do Tennessee entre 1865 e 1915 era mais de dez vezes superior à média nacional actual e o dobro das piores zonas degradadas urbanas.

Os sulistas interessam-se muito mais pela guerra e têm tido uma representação excepcionalmente grande nas Forças Armadas dos Estados Unidos.

Até os entretenimentos são mais violentos no Sul. Se visitarmos um bar do Sul, podemos assistir a um jogo chamado “purring” no qual dois homens se agarram pelos ombros e dão pontapés um no outro até um deles ceder.

A violência no Sul tem sido atribuída a várias causas, como à miséria, ao clima e à instituição da escravatura, que no passado sancionou a violência enquanto forma de domínio social.

Mas há ainda um quarto sector que nada tem a ver com a história americana.

As pessoas que colonizaram o Norte e o Sul já eram diferentes nas suas práticas culturais antes de porem os pés no continente americano.

O Norte foi colonizado principalmente por agricultores  e comerciantes que estavam acostumados a ter os seus assuntos resolvidos por uma forte autoridade política e religiosa, como os puritanos, que colonizaram a nova Inglaterra, e os Quakers, que colonizaram a Pensilvânia e o Delaware.


O Sul foi colonizado em parte pelos filhos de famílias nobres britânicas, que criaram plantações nas terás baixas férteis, mas ainda mais por uma população de pastores das terras altas das Ilhas Britânicas, escoceses e irlandeses, que se deslocaram para as regiões altas do Sul da América do Norte e continuaram a viver em grande medida como tinham vivido até então.

Site Meter