domingo, dezembro 08, 2013

Hoje  é

Domingo
(8 de Dezembro 2013 - Na minha cidade de Santarém)                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                    

Na sua exortação Evangelii Gaudium – (As Exortações são documentos do Papa que em termos de importância precedem as Encíclicas ) - de que transcrevi aqui no Memórias Futuras as passagens que mais me seduziram pela coragem e frontalidade da análise às causas da crise que vivemos, o Papa Francisco pôs o “dedo na ferida” ao falar de uma “economia sem rosto” e que “mata”.

A este propósito recordo o que me foi ensinado em 1961, em Economia Política, pelo falecido Prof. Alfredo de Sousa, de que as empresas eram geridas segundo o “princípio do máximo lucro” o que, atendendo à natural ambição dos homens,  - não esqueçamos o "gene egoísta" - representa um perigo para a sociedade e para o próprio capitalismo se, nesse “princípio do máximo lucro” não forem incorporados níveis de bem estar e direitos dos trabalhadores.

Esperar que isso aconteça espontaneamente por razões de ética dos próprios empresários é de um ingénuo optimismo.

Obrigados a observar regras nas condições de trabalho nos países Europeus, os donos das grandes marcas de vestuário transferem as fábricas para os países asiáticos onde as operárias trabalham em condições deploráveis, sem horários, apinhadas em grandes prédios, sem condições, alguns dos quais acabam por cair ou arder matando e ferindo as trabalhadoras que depois são notícia em todo o mundo.

Isto faz parte da “ditadura de uma economia sem rosto que mata” e o Papa Francisco denuncia “que há uma crise antropológica profunda com a negação da primazia do ser humano”.

A globalização permitiu estas transferências oportunistas de empresas de países para países, de continentes para continentes, na busca insaciável de condições que lhes permitam guerrear no mercado com preços cada vez mais competitivos à custa de exércitos de autênticos “robots” que tendo partido dos seus locais tradicionais de vida para grandes cidades, são obrigadas a aceitar quaisquer condições de trabalho para poderem sobreviver perante a passividade dos respectivos Estados.

E a troyka, nesta linha de empobrecimento dos trabalhadores, continua a falar em competitividade e, descaradamente, quase que exige a baixa de salários quando podia falar de muitos outros factores que entram na estrutura de custos de qualquer produto que constituem, no seu conjunto, uma economia. Que se seja competitivo, mas porquê apenas à custa do nível de vida dos trabalhadores? 

A organização do trabalho, a tecnologia utilizada, a aposta na qualidade, no design… Veja-se o que aconteceu na nossa indústria de calçado e pergunte-se se tal era possível com trabalhadores desmotivados por baixos salários.

Mas a muitas destas entidades falta-lhes ética, valores humanos. Deslocam-se pelos corredores, transitam de gabinetes para gabinetes, gastam horas infindáveis sentados à volta de mesas, sempre com aquelas caras sem rosto ao serviço dos grandes senhores do dinheiro.

Mas hoje a economia já passou para segundo plano… não é produzindo que se ganha dinheiro… talvez se ganhe mas não suficiente para certas ambições, e especialmente não suficientemente rápido…

José Albino da Silva Peneda, que é hoje Presidente do Centro Económico e Social diz:                        

 - «A crise é consequência da ganância das instituições financeiras. Quem falhou foi o sistema político porque não supervisionou, não fiscalizou, não preveniu, nem puniu. A crise é global, mas não temos nem soluções globais e não teremos enquanto o poder político estiver capturado pelo poder financeiro.»

A exortação do Papa é um apelo aos líderes políticos para que travem toda a forma de capitalismo selvagem e, como pretexto para resolver a crise, não persistam em castigar de forma injusta os mais indefesos.

Há poucos dias, dez Directores de Bancos Europeus conluiram-se entre si para chegar a uma taxa de juro mais favorável às suas ambições… Foram descobertos. Por lei, são obrigados a competir entre si e não a entenderem-se uns com os outros.

Com taxas de juro desta forma manipuladas todos tivemos que pagar mais nas variadas prestações que são encargos nas nossas vidas, e isso equivale a um roubo.

Porque não foram presos? Em vez disso, comprovada a fraude, vão pagar uma das maiores multas que há memória, mais de mil e quinhentos milhões de euros, provavelmente muito aquém do que ganharam fraudulentamente.

 Condiz: o poder político está aprisionado pelo financeiro, a multa foi o máximo a que conseguiram chegar...

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