sexta-feira, dezembro 06, 2013

Nelson


Mandela






Quando cheguei a Moçambique, em meados de 1972, foi-me apresentado um colega de Serviço, na então Lourenço Marques, que em conversa me dizia, de todo convencido, que os negros eram inferiores aos brancos nas suas capacidades, uma espécie de classe atrasada de homens na escala da evolução…

Fiquei de tal forma “horrorizado” com o assunto que de imediato cortei relações. No entanto, ele não era único. O “apartheid” da vizinha África do Sul tinha-os contaminado. 

De resto, a colónia de portugueses da África do Sul, especialmente na cidade do Cabo, era fortemente reaccionária e racista o que lhe trouxe alguns problemas com o ANC e o fim do regime.

Tive oportunidade de visitar aquela cidade, uma das mais lindas do mundo, mas não o fiz de propósito porque ver aqueles dois mundos, um reservado a brancos e outro a negros seria um espectáculo mais que desagradável, degradante.

Aconteceu-me o mesmo com os Estados Unidos que nunca visitei porque nunca perdoei aos americanos terem morto John Kennedy, seu irmão Robert Kennedy e Luther King. 

Creio que me enamorei dessas pessoas... eu era um jovem e eles uma “pedrada no charco” nesses tempos cinzentos.

Convivi em Moçambique com algumas manifestações de racismo, mais por imitação dos vizinhos ingleses porque o português tem um pouco de “macaquinho de imitação", talvez como estratégia instintiva de sobrevivência. Imitar os mais fortes, mais ricos e poderosos é sentido como um pacto de aliança com eles.

De tão estúpido e irracional, o sistema do “apartheid” estava condenado desde o seu início e o que eu temia, em 1972, era o banho de sangue que o fim daquele odioso regime iria acarretar.

Não foi assim pela liderança, inspiração e exemplo de vida de Nelson Mandela que ontem faleceu mas um desfecho tão optimista não estava então nas minhas previsões.

Há homens, raros, que conseguem dar a volta à história do seu povo. Nelson foi esse homem.

Site Meter