Quando cheguei a Moçambique, em meados
de 1972, foi-me apresentado um colega de Serviço, na então Lourenço Marques,
que em conversa me dizia, de todo convencido, que os negros eram inferiores aos
brancos nas suas capacidades, uma espécie de classe atrasada de homens na
escala da evolução…
Fiquei de tal forma “horrorizado” com o
assunto que de imediato cortei relações. No entanto, ele não era único. O “apartheid”
da vizinha África do Sul tinha-os contaminado.
De resto, a colónia de portugueses
da África do Sul, especialmente na cidade do Cabo, era fortemente reaccionária e
racista o que lhe trouxe alguns problemas com o ANC e o fim do regime.
Tive oportunidade de visitar aquela
cidade, uma das mais lindas do mundo, mas não o fiz de propósito porque ver
aqueles dois mundos, um reservado a brancos e outro a negros seria um espectáculo
mais que desagradável, degradante.
Aconteceu-me o mesmo com os Estados
Unidos que nunca visitei porque nunca perdoei aos americanos terem morto John
Kennedy, seu irmão Robert Kennedy e Luther King.
Creio que me enamorei dessas
pessoas... eu era um jovem e eles uma “pedrada no charco” nesses tempos cinzentos.
Convivi em Moçambique com algumas
manifestações de racismo, mais por imitação dos vizinhos ingleses porque o
português tem um pouco de “macaqui nho
de imitação", talvez como estratégia instintiva de sobrevivência. Imitar os mais fortes, mais ricos e poderosos é sentido como um
pacto de aliança com eles.
De tão estúpido e irracional, o sistema
do “apartheid” estava condenado desde o seu início e o que eu temia, em 1972, era
o banho de sangue que o fim daquele odioso regime iria acarretar.
Não foi assim pela liderança, inspiração
e exemplo de vida de Nelson Mandela que ontem faleceu mas um desfecho tão
optimista não estava então nas minhas previsões.
Há homens, raros, que conseguem dar a
volta à história do seu povo. Nelson foi esse homem.
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home