Não a um dinheiro que governa
em vez de servir
Por
detrás desta atitude, escondem-se a rejeição da ética e a recusa de Deus. Para
a ética, olha-se habitualmente com um certo desprezo sarcástico; é considerada
contraproducente, demasiado humana, porque relativiza o dinheiro e o poder. É
sentida como uma ameaça, porque condena a manipulação e degradação da pessoa.
Em última instância, a ética leva a Deus que espera uma resposta comprometida
que está fora das categorias do mercado. Para estas, se absolutizadas, Deus é
incontrolável, não manipulável e até mesmo perigoso, na medida em que chama o
ser humano à sua plena realização e à independência de qualquer tipo de
escravidão.
- «Não fazer os pobres
participar dos seus próprios bens é roubá-los e tirar-lhes a vida. Não são
nossos, mas deles, os bens que aferrolhamos».
Uma reforma financeira que tivesse em conta
a ética exigiria uma vigorosa mudança de atitudes por parte dos dirigentes
políticos, a quem exorto a enfrentar este desafio com determinação e
clarividência, sem esquecer naturalmente a especificidade de cada contexto. O
dinheiro deve servir, e não governar! O Papa ama a todos, ricos e pobres, mas
tem a obrigação, em nome de Cristo, de lembrar que os ricos devem ajudar os
pobres, respeitá-los e promovê-los. Exorto-vos a uma solidariedade
desinteressada e a um regresso da economia e das finanças a uma ética propícia
ao ser humano.
Não à desigualdade social que
gera violência
Hoje, em muitas partes, reclama-se maior segurança. Mas, enquanto não se eliminar a exclusão e a desigualdade dentro da sociedade e entre os vários povos será impossível desarreigar a violência. Acusam-se da violência os pobres e as populações mais pobres, mas, sem igualdade de oportunidades, as várias formas de agressão e de guerra encontrarão um terreno fértil que, mais cedo ou mais tarde, há-de provocar a explosão.
Hoje, em muitas partes, reclama-se maior segurança. Mas, enquanto não se eliminar a exclusão e a desigualdade dentro da sociedade e entre os vários povos será impossível desarreigar a violência. Acusam-se da violência os pobres e as populações mais pobres, mas, sem igualdade de oportunidades, as várias formas de agressão e de guerra encontrarão um terreno fértil que, mais cedo ou mais tarde, há-de provocar a explosão.
Quando a sociedade – local, nacional ou mundial – abandona na
periferia uma parte de si mesma, não há programas políticos, nem forças da
ordem ou serviços secretos que possam garantir indefinidamente a tranqui lidade. Isto não acontece apenas porque a
desigualdade social provoca a reacção violenta de quantos são excluídos do
sistema, mas porque o sistema social e económico é injusto na sua raiz.
Assim
como o bem tende a difundir-se, assim também o mal consentido, que é a
injustiça, tende a expandir a sua força nociva e a minar, silenciosamente, as
bases de qualquer sistema político e social, por mais sólido que pareça. Se
cada acção tem consequências, um mal embrenhado nas estruturas duma sociedade
sempre contém um potencial de dissolução e de morte. É o mal cristalizado nas
estruturas sociais injustas, a partir do qual não podemos esperar um futuro
melhor. Estamos longe do chamado «fim da história», já que as condições dum
desenvolvimento sustentável e pacífico ainda não estão adequadamente
implantadas e realizadas.
Os mecanismos da economia actual promovem
uma exacerbação do consumo, mas sabe-se que o consumismo desenfreado, aliado à
desigualdade social, é duplamente daninho para o tecido social.
Assim, mais
cedo ou mais tarde, a desigualdade social gera uma violência que as corridas
armamentistas não resolvem nem poderão resolver jamais. Servem apenas para
tentar enganar aqueles que reclamam maior segurança, como se hoje não se
soubesse que as armas e a repressão violenta, mais do que dar solução, criam
novos e piores conflitos.
Alguns comprazem-se simplesmente em culpar, dos
próprios males, os pobres e os países pobres, com generalizações indevidas, e
pretendem encontrar a solução numa «educação» que os tranqui lize
e transforme em seres domesticados e inofensivos. Isto torna-se ainda mais
irritante, quando os excluídos vêem crescer este câncer social que é a
corrupção profundamente radicada em muitos países – nos seus Governos,
empresários e instituições – seja qual for a ideologia política dos
governantes.
NOTA
- O Papa Francisco é um homem de "boa vontade" e eu não tenho dúvidas, ao fim deste tempo de exercício das funções de Papa, que para ele "Deus é incontornável, não manipulável e por isso perigoso".
- Mas, na realidade, Deus foi ao longo da história manipulado, continua e continuará a ser manipulado e é por isso que ele é perigoso. O que foi feito em nome de Deus e de deuses, ao longo dos tempos, dava e continua a dar um Livro de Horrores.
- Quanto a não ser incontornável, Francisco estará a referir-se aos crentes mas a sociedade de hoje é constituída, também, por não crentes, ateus, que contornaram Deus, que não acreditam que ele exista, para quem o mundo faz todo o sentido sem ele... e que são igualmente homens de "boa vontade".
- "Uma reforma financeira que tivesse em conta a ética exigiria uma vigorosa mudança de atitudes por parte dos dirigentes políticos"... simplesmente, este discurso continua a cair em saco roto... Bancos europeus foram ontem condenados pela Comissão Europeia a pagar uma multa de cerca de mil e quinhentos milhões de euros por terem concertado entre si, o que é rigorosamente ilegal, taxas de juro manipuladas o que obrigou os cidadãos a pagarem mais dinheiro.
A lei manda-os competir e, em vez disso, eles "entendem-se" para ganharem ilegitimamente mais dinheiro numa ganância sem limites.
Relativamente ao que ganharam desta forma fraudulenta a multa que irão pagar, provavelmente, serão "trocos".
Muitos deles irão com certeza à missa e em peregrinação ao Papa, no Vaticano, e isto, meu caro Francisco, é manipulação de Deus.
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