segunda-feira, abril 07, 2014

José Niza
Poemas da Guerra
José Niza (médico, poeta, deputado e democrata)








REVISTA
ÀS
TROPAS


Na parada
Estavam perfilados
Quatrocentos e noventa e nove soldados

Faltava um para os quinhentos
Incluindo já todos os sargentos

O general foi então passar revista
Em passo cadenciado
Displicente
De quem manda mais
E se sabe diferente

Mas faltava um para os quinhentos
(tinha morrido na véspera
Na picada
Numa mina
Durante uma emboscada)

O general disse
Estão todos
São quinhentos
E proclamou
Não falta nenhum
Fui eu quem os contou

Fez o que competia a um general
Generalizou


O Meu Major Dá-me Licença
 

Não sei como se esvaziou aquele crânio
Dos neurónios todos
Da massa cinzenta
E da residual inteligência
Militarizada
Tudo se esvaiu se evaporou
Se tornou em nada

Naquela caixa óssea
A um canto arquivados
Só ficaram meia dúzia
De reflexos condicionados
Um nome
Um número
Um posto
Uma morada
Onde vive ninguém
Onde existe nada

À hora do rancho
Ávido de vinho
E voraz de gula
O homem avança
Para atestar a pança
E encher a mula

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