sábado, janeiro 24, 2015

Filho da puta! - Uivou Dalila, loba desatada.
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)



Episódio Nº 155



















A bofetada retiniu nos quatro cantos do salão - salão: assim dissera o turco, lugar onde se dança, lugar de pagode e não de briga.

A negra perdeu o equilíbrio; a segunda bolacha ainda mais forte a derrubou no chão, um filete de sangue escorreu no beiço grosso.

- Filho da puta! - Uivou Dalila, loba desatada.

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- Filho da puta! -  Repetiu Bernarda avançando ela também.

Quando os vaqueiros se deram conta, estavam acometidos, cercados por fúrias infernais. Partindo em defesa de Epifânia, Dalila se atirara contra Misael tentando garguelá-lo.

Não haviam, rivais e ciumentas, se atracado a tapas e cusparadas no início do bate-coxas? Fuzué de putas, já se disse, não deixa rastro, é querela de comadres.

Juntaram-se todas elas sem exceção para enfrentar tangerinos, recusar o ditame imposto: se não tivessem o direito fechar o balaio quando bem lhes aprouvesse, se não fossem donas do próprio xibiu que lhes restaria na vida miserável?

Todas as quatro na ocasião exerciam o ofício em Tocaia Grande: Dalila, Epifânia, Bernarda, Zuleica, Margarida Cotó, Marieta Quinze Arrobas, Cotinha, Dorita, Teté e Sílvia Pernambuco, desgrenhadas, bêbadas, solidárias.

Faltou na relação o nome de Jacinta Coroca, não por esquecimento e sim por apreço e consideração: sozinha, valia mais que todas as outras reunidas.

Quando o inexperiente Aprígio ameaçou puxar do revólver pensando com ele resolver rolo de unhas e dentes, Coroca aplicou-lhe um pontapé nos quibas. O grito do moleque foi ouvido a três léguas e meia, na estação de Taquaras, segundo verídico relato de Pedro Cigano, testemunha de vista e de oitiva.

O velho Totonho, pobre coitado digno de comiseração, era dos três o mais indignado. Esperara aboiar Bernarda em noite de cobrir bezerra nova, via o sonho desfazer-se e não se conformava.

Atracando-a pela cintura terminou por derrubá-la; buscava tocar-lhe os peitos, suspender-lhe a saia, disposto, sabe Deus, a traçá-la ali mesmo no barracão, em meio ao pega-pra-capar, na vista dos presentes.

Adoidado, tremendo como se estivesse sofrendo um ataque de maleita. Adoçava a voz para suplicar: vambora...

Rangia os dentes para ordenar: vambora! Arrancou o gibão de couro para obter mais liberdade de ação. Foi seu erro principal: perderam-lhe o respeito que o gibão impunha.

Bernarda aproveitou para safar-se, e antes que Totonho pudesse se levantar, Maneta Quinze Arrobas, abundante, lenta e maternal, arriou o corpanzil em cima do infeliz: as juntas rangeram.

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