Gosto de comer um cozido de sustância |
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio Nº 268
Controlava o nervosismo e o medo,
somente conseguia encontrar a calma necessária ao chegar ao local e assumir o
mando da pugna: ela de um lado, do outro a morte.
Na ocasião o sobressalto, o aperto no
coração era ainda maior, pois, não passando das três da tarde, tinha-se a
impressão de que um prolongado crepúsculo, feio e triste, se abatera sobre
Tocaia Grande.
Vamos, concordou sorrindo a fim de
acalmar Tarcísio.
Cobriu a cabeça com um saco e lá se foi
fazer o parto de Zeferina. O oitavo da seara iniciada com Guaraciaba, a tamanqueira:
o nono levando em conta que o de Dinorá fora de gêmeos em noite de prodígio e
maravilha!
As rajadas de vento ameaçavam carregar o
consumido corpo de Coroca e no pontilhão ela teve de apoiar-se no braço do acompanhante.
Com tanta chuva ninguém punha o pé fora de casa, mas não compete à parturiente
escolher a data da desova.
Quando atendeu Hilda e a aliviou, sia
Leocádia, entendida em coisas de religião, explicara que a hora e o dia são
anotados na folhinha do céu, com antecedência. A parteira zombava das crendice
anciã: quer dizer que quando o menino nasce antes de tempo é porque o santo
errou nas contas das luas entre o dia da descaração e o do padecimento, me diga
vosmicê.
Sia Leocádia ria com os disparates de
Coroca, além de pecadora, herege: o ambiente se desanuviava, os trabalhos de
parto decorriam fáceis, sob as bênçãos do Senhor.
As estancianas eram de bom parir, ao
menos Hilda e Fausta tinham sido, certamente o mesmo iria acontecer com
Zeferina. Os maridos, em troca, uns avexados, ao primeiro alarme corriam para a
casa da parteira.
Enquanto ordenava os preparativos
iniciais, Coroca punha-se a par das iniciativas e dos projetos daquele povo trabalhador,
unido e cordato, igual ao de Ambrósio.
E festivo, a se julgar pelo pouco tempo
de residência: qualquer pretexto servia para que armassem um arrasta-pé; se
possível, de acordo com os demais sergipanos e com a gente do arraial, no
último caso eles sozinhos: não deixavam escapar domingo sem um divertimento.
A música não era problema, os quatro homens
formavam um conjunto bem ou mal afinado, pouco importava: Vavá e Tarcísio ao violão,
Gabriel no cavaqui nho, na flauta
Jardelino quebrava o galho.
Dois dos mocetões, Zelito e Jair,
arranhavam também as cordas da viola e não faziam feio. Sia Leocádia puxava o
rancho, a mãe da animação.
Adiante do criatório de Altamirando,
onde, no outeiro pedregoso, as cabras
reproduziam-se destras e independentes - cabrito-montês. Ção as apascentava - os
estacianos haviam medido várias braças de terra, começavam a roçá-las e
plantá-las: campos de mandioca, feijão e milho, de batata-doce a aipim.
As mulheres se encarregavam da horta,
cultivavam as verduras e os legumes mais consumidos na região: chuchu, qui abo, jiló, maxixe, abóbora.
Sia Leocádia explicava:
- Gosto de comer um cozido de
sustância... - costumes de Sergipe, influindo na mesa grapiúna, marcando gosto
e preferência.
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