Portugal
(Domingos Amaral)
Episódio Nº 26
Cem anos já haviam passado e
aquela gente ainda fantasiava com a ressurreição do califado de Córdova.
Não eram como ele, um
berbere fiel aos éditos do profeta mas sim uns degradados pela conveniência dos
cristãos e até judeus.
Judeus instalados no coração
de um califado islâmico! Existiam mesmo alguns muçulmanos que se haviam
convertido como Zaida, a traidora, que casara com Afonso VI e lhe dera Sancho,
seu único filho varão.
O velho ambicioso
intitulava-se imperador das duas religiões. Fora o próprio Ali Yusuf quem lhe
matara o herdeiro Sancho, em Uclés, e acabara com esse sonho impensável de unir
os reinos cristãos e muçulmanos da Península sob um único monarca.
Contudo, para Ali Yusuf, os
cristãos eram menos perigosos do que o governador de Códova e sua família de
mulheres.
Taxfim ia dar trabalho a
convencer. O califa teria de usar o segredo que conhecia para o paralisar, pois
não queria matá-lo, pelo menos para já.
Ainda necessitava dos seus
préstimos para a guerra, embora pudesse acabar com ele num instante.
Olha para o fundo da tenda
onde está um homem de pé, atrás de um biombo. É um persa alto e magro, envolto
num manto branco, apertado à cintura com um cordão vermelho e com um capuz a
cobri-lhe a cabeça.
Veio de longe para espalhar
a morte e faz isso muito bem. Na Pérsia, chamavam-lhe fedayin e o califa não
sabe o seu nome próprio, nem quer saber, mas apenas que ficou muito mais forte
desde a chegada deste homem, à sua corte, meses atrás.
Chama-o e ordena-lhe:
- Mata todos os doentes e
deixa os cadáveres a apodrecerem ao sol, para os cristãos adoecerem com a
pestilência que nos pegaram.
O fedayin sai da tenda em
silêncio, vai fazer o que tanto gosta. O califa sente um arrepio e tem saudades
da sua Marraquexe e de tâmaras. Grita pela criada mas a rapariga não aparece.
Quem surge é Taxfin, de
rompante, aos gritos:
- Senhor, e a vossa promessa?
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