quinta-feira, julho 09, 2015

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)

Episódio Nº 11













Depois, havia o eco das palavras, muitas, que foram proferidas em francês, a língua do pai. Apesar de frágil ainda falou, dirigiu-se a ele.

Meu filho, tendes de tomar conta das minhas terras, tendes de as defender dos infiéis, como eu defendi sempre.

Ao longo da sua vida, o meu melhor amigo recordou ditos assim, que seu pai, o conde Henrique, lhe lançou quando ele tinha três anos.

Ditos sobre justiça, o futuro e a guerra, e umas palavras incompreensíveis, balbuciadas aos soluços, sobre Jerusalém, Cristo, três homens.

Ditos de que pouco lhe valiam naquele dia em Coimbra, em frente daqueles milhares de inimigos. Ali, tudo o que ele desejava era convocar a fama de guerreiro do pai, para com ela aterrorizar os homens do califa.

 - Estará na tenda grande, ainda a dormir? – perguntara-me ele na manhã anterior.

Afonso Henriques acreditava que Ali Yusuf, o almorávida de Marraquexe, regressara pela segunda vez a Coimbra porque queria dizimar uma vez mais, a família do rei de Leão. Queria matar o neto de Afonso VI, a quem já matara o filho Sancho.

Ainda me lembro dessa manhã em Coimbra, tinha eu nove anos. O príncipe, um ano mais novo do que eu, perguntou-me:

 - Lourenço, se o meu pai fosse vivo, o que faria? Atacaria as tropas infiéis, fazendo uma surtida? Ou aguentaria o cerco?


Enquanto um solitário arqueiro ciranda no alto do castelo para cá e para lá, o menino perscruta melhor o Mondego, que parece escondido no nevoeiro, como se as suas águas estivessem envergonhadas e pedissem desculpa por ajudar os mouros. 

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