A mistificação das palavras. |
A Mistificação
das
palavras
A política está completamente personificada. Não
de hoje, nem de ontem, mas cada vez mais.
O programa político do PSD? – Mas quem o lê? –
Quem se interessa?
Os próprios deputados parlamentares esboçam um
sorriso e vão dizendo que ainda não o leram...
O programa político da coligação é Passos
Coelho com o seu bom porte, voz bem colocada, ar sério e convincente e os seus “sound
bit”, ideias chave que hoje são umas e amanhã são outras como se ele tivesse o
dom de adivinhar aqui lo que os
eleitores gostam de ouvir em cada momento.
Constrói-se uma imagem e vive-se dessa imagem e
se ela estiver a resultar convém não alterar.
Ainda recordo, e os portugueses da minha
geração igualmente, a imagem de Salazar, o olhar acutilante, por cima dos óculos,
falando para os portugueses como se as suas palavras fossem as últimas do mundo.
Ele tinha a seus pés a população do país que
parecia ter sido feita para ele, ou ele para ela.
Tive muita pena que tivesse caído da cadeira
porque não merecia aquele fim tão estúpido.
Teria sido de toda a justiça assistir com os seus próprios olhos e mente saudável à derrocada do seu falso império
que ele tentou construir contra os ventos da história como ele próprio admitia.
Vamos dar de barato que ele tinha as “costas
quentes” pela Polícia Política e pela Censura mas, com esse conforto, era um
homem verdadeiro dizendo sempre a mesma coisa e teria morrido a afirmá-la se a
consciência não lhe tivesse faltado.
No lugar de Passos Coelho, Oliveira Salazar, na
campanha para as últimas eleições que Passos ganhou, teria dito, no seu ar
grave, sério e profundo:
- “Portugueses:
depois do Acordo que assinámos com a Troyka, não nos resta outro caminho que não
seja sangue, suor e lágrimas.
Não vos posso enganar relativamente a esses
sacrifícios que passarão pela subida de impostos e cortes nos salários e pensões”.
Teria Passos ganho as eleições se tivesse
falado verdade aos portugueses como Salazar ousaria fazer?
-
Provavelmente, não! - Passos deveu a vitória às suas palavras mentirosas...
A política é cada vez mais a arte da
mistificação e os políticos, actores que dominam a arte da mentira e da
representação.
Vamos entrar num período eleitoral e as máqui nas da comunicação aquecem os motores, estudando
as frases, afinando as vozes, ensaiando as respostas às perguntas esperadas,
estudando os discursos, concebendo os cartazes, porque a política, nestas fases
eleitorais, é, fundamentalmente: criação de expectativas.
Tal como o mercado, na economia, vive dessas
expectativas, a política vive das promessas que são feitas.
Quase como um exercício de futurologia:... sonhos,
planos, promessas que são, como todos nós sabemos, no fundo, o alimento da
vida...
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