sábado, agosto 01, 2015


A mistificação das palavras.

A Mistificação
das 
palavras







A política está completamente personificada. Não de hoje, nem de ontem, mas cada vez mais.
O programa político do PSD? – Mas quem o lê? – Quem se interessa?
Os próprios deputados parlamentares esboçam um sorriso e vão dizendo que ainda não o leram...
O programa político da coligação é Passos Coelho com o seu bom porte, voz bem colocada, ar sério e convincente e os seus “sound bit”, ideias chave que hoje são umas e amanhã são outras como se ele tivesse o dom de adivinhar aquilo que os eleitores gostam de ouvir em cada momento.
Constrói-se uma imagem e vive-se dessa imagem e se ela estiver a resultar convém não alterar.
Ainda recordo, e os portugueses da minha geração igualmente, a imagem de Salazar, o olhar acutilante, por cima dos óculos, falando para os portugueses como se as suas palavras fossem as últimas do mundo.
Ele tinha a seus pés a população do país que parecia ter sido feita para ele, ou ele para ela.
Tive muita pena que tivesse caído da cadeira porque não merecia aquele fim tão estúpido.
Teria sido de toda a justiça assistir com os seus próprios olhos e mente saudável à derrocada do seu falso império que ele tentou construir contra os ventos da história como ele próprio admitia.
Vamos dar de barato que ele tinha as “costas quentes” pela Polícia Política e pela Censura mas, com esse conforto, era um homem verdadeiro dizendo sempre a mesma coisa e teria morrido a afirmá-la se a consciência não lhe tivesse faltado.
No lugar de Passos Coelho, Oliveira Salazar, na campanha para as últimas eleições que Passos ganhou, teria dito, no seu ar grave, sério e profundo:
- “Portugueses: depois do Acordo que assinámos com a Troyka, não nos resta outro caminho que não seja sangue, suor e lágrimas.
Não vos posso enganar relativamente a esses sacrifícios que passarão pela subida de impostos e cortes nos salários e pensões”.
Teria Passos ganho as eleições se tivesse falado verdade aos portugueses como Salazar ousaria fazer?
 - Provavelmente, não! -  Passos deveu a vitória às suas palavras mentirosas...
A política é cada vez mais a arte da mistificação e os políticos, actores que dominam a arte da mentira e da representação.
Vamos entrar num período eleitoral e as máquinas da comunicação aquecem os motores, estudando as frases, afinando as vozes, ensaiando as respostas às perguntas esperadas, estudando os discursos, concebendo os cartazes, porque a política, nestas fases eleitorais, é, fundamentalmente: criação de expectativas.
Tal como o mercado, na economia, vive dessas expectativas, a política vive das promessas que são feitas.
Quase como um exercício de futurologia:... sonhos, planos, promessas que são, como todos nós sabemos, no fundo, o alimento da vida...

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