segunda-feira, agosto 03, 2015

Coçando a barriga no tejadilho do automóvel
Crime 

Cinegético













Regressemos ao leão Cecil vítima de um crime cinegético no Zimbabwe e a uma notícia dos responsáveis do Estado que me pareceu de um grande cinismo.

Efectivamente, não se percebe muito bem como é que a morte de um leão “parte o coração” mas se for a vida de outro leão que foi vendida a um caçador estrangeiro por 48.000 dólares, já não mata coração nenhum...

Os animais selvagens constituem uma riqueza inestimável em qualquer parte do mundo e a sua defesa é uma tremenda dor de cabeça para quem os quer e tem a obrigação de os defender, mas nos países africanos, o grande reduto da vida selvagem, as coisas estão a adquirir um aspecto dramático e de resolução quase impossível.

A população dos países africanos a sul do equador duplicou nos últimos 28 anos e quadruplicou nos últimos 55, ou seja, desde que eu cheguei a Angola, para iniciar “a minha guerra”, em 1962, a população aumentou quatro vezes.

É como se Portugal tivesse crescido para a população de Espanha. Infelizmente não temos leões nem elefantes a não ser os do Jardim Zoológico.

África é um continente de grandes espaços que permitia a vida das grandes manadas de herbívoros e respectivos carnívoros.

O espaço está lá, não lhe foi amputado mas agora é ferozmente disputado pelas populações para a agricultura e a pastorícia.

Conciliar interesses de homens e animais está a tentar ser feito com a criação de grandes santuários em Parques Nacionais, como o Kruger, com uma área de 20.000 km2, que para os elefantes não é suficiente como se prova e demonstra pelo da fotografia que resolveu coçar a barriga no tejadilho do automóvel do turista... ou o do Parque Nacional do Serengeti com 40.000 km2, saturado já pela visita de tantos jipes carregados de turistas.
A Nigéria, dentro de uns anos, deixará de ter leões. 

Eram 3.000, agora, 2.000 e estão a reduzir a um ritmo de 200 por ano. Abaixo de um determinado número os problemas de consanguinidade exterminá-los-ão.

Tive muita sorte, em 1964, quando, no Lumbala, “navegava” no meu jipe pelas planícies das terras do fim do mundo do Alto Zambeze, cruzando-me com manadas de palancas e gnus ou, dez anos mais tarde, sobrevoando de avioneta, manadas de búfalos, a maior concentração do mundo, nos tandos de Marromeu, a norte da cidade da Beira, ou atravessando as manadas, em terra, “pedindo” que se afastassem para o meu Unimog poder passar... eram dezenas de milhar!

Não posso esquecer o Parque da Gorongosa, então no seu esplendor máximo, fazendo pirraça aos elefantes sobrevoando-os baixinho num helicóptero simpaticamente cedido por um multimilionário anglo/japonês, também ele de visita ao Parque.

E a carga da elefanta sobre o meu Land-Rover porque tinha uma cria pequena e não se sentia bem com a minha presença ali tão perto. Levantou a tromba, ensaiou uma corrida e assoprou num ensaio de “trombeta”... adeus elefanta, boa sorte para ti e para o teu filho nos tempos que viriam de grande atribulação...

Que feliz que eu fui... sem o saber!

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