Coçando a barriga no tejadilho do automóvel |
Crime
Cinegético
Regressemos ao leão Cecil vítima de um crime cinegético no Zimbabwe e a uma notícia dos responsáveis do Estado que me pareceu de um grande cinismo.
Efectivamente, não se percebe muito bem como é que a
morte de um leão “parte o coração” mas se for a vida de outro leão que foi vendida
a um caçador estrangeiro por 48.000 dólares, já não mata coração nenhum...
Os animais selvagens constituem uma riqueza inestimável em qualquer parte do mundo e a sua defesa é uma tremenda dor de cabeça para quem os quer e tem a obrigação de os defender, mas nos países africanos, o grande reduto da vida selvagem, as coisas estão a ad
A população dos países africanos a sul do equador
duplicou nos últimos 28 anos e quadruplicou nos últimos 55, ou seja, desde que
eu cheguei a Angola, para iniciar “a minha guerra”, em 1962, a população aumentou
quatro vezes.
É como se Portugal tivesse crescido para a população de
Espanha. Infelizmente não temos leões nem elefantes a não ser os do Jardim Zoológico.
África é um continente de grandes espaços que permitia a
vida das grandes manadas de herbívoros e respectivos carnívoros.
O espaço está lá, não lhe foi amputado mas agora é
ferozmente disputado pelas populações para a agricultura e a pastorícia.
Conciliar interesses de homens e animais está a tentar
ser feito com a criação de grandes santuários em Parques Nacionais ,
como o Kruger, com uma área de 20.000 km2, que para os elefantes não é
suficiente como se prova e demonstra pelo da fotografia que resolveu coçar a
barriga no tejadilho do automóvel do turista... ou o do Parque Nacional do
Serengeti com 40.000 km2, saturado já pela visita de tantos jipes carregados de
turistas.
A Nigéria, dentro de uns anos, deixará de ter leões.
Eram
3.000, agora, 2.000 e estão a reduzir a um ritmo de 200 por ano. Abaixo de um
determinado número os problemas de consanguinidade exterminá-los-ão.
Tive muita sorte, em 1964, quando, no Lumbala, “navegava” no meu jipe
pelas planícies das terras do fim do mundo do Alto Zambeze, cruzando-me com
manadas de palancas e gnus ou, dez anos mais tarde, sobrevoando de avioneta,
manadas de búfalos, a maior concentração do mundo, nos tandos de Marromeu, a
norte da cidade da Beira, ou atravessando as manadas, em terra, “pedindo” que se
afastassem para o meu Unimog poder passar... eram dezenas de milhar!
Não posso esquecer o Parque da Gorongosa, então no seu
esplendor máximo, fazendo pirraça aos elefantes sobrevoando-os baixinho num
helicópt ero simpaticamente cedido
por um multimilionário anglo/japonês, também ele de visita ao Parque.
E a carga da elefanta sobre o meu Land-Rover porque
tinha uma cria pequena e não se sentia bem com a minha presença ali tão perto.
Levantou a tromba, ensaiou uma corrida e assoprou num ensaio de “trombeta”... adeus
elefanta, boa sorte para ti e para o teu filho nos tempos que viriam de grande
atribulação...
Que feliz que eu fui... sem o saber!
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