Durante muitos anos as
eleições no meu país foram uma farsa. Existiam apenas porque correspondiam ao
conceito da democracia e de liberdade que ficava bem no contexto europeu do Pós-Guerra,
depois da vitória dos aliados.
No fundo, para “inglês
ver”, porque eles foram sempre uma referência neste país mesmo quando nos
humilharam a propósito do Mapa-Cor-de-Rosa, em que nos ameaçaram de bombardear
o Terreiro do Paço se não satisfizéssemos as suas exigências em África.
O golpe de misericórdia
nas nossas eleições foi-lhe dado em 1958, quando Humberto Delgado se candidatou
a Presidente da República e foi escandalosamente espoliado da vitória nas urnas
para vergonha do regime de Salazar e das forças policiais que o suportavam.
O povo português não
tinha, então, direito a escolher o seu líder e, desde aí, para evitar tentações,
acabaram-se as eleições para Presidente da República que passaram a eleger
apenas deputados para a então Assembleia Nacional.
Nós tínhamos um Presidente
vitalício escolhido pela divina providência que governava com a sapiência e
inspiração da Srª de Fátima e a inveja do vaidoso do Cerejeira, posto no seu
lugar com o seu exército de padres, pelo Salazar com a PIDE, a Censura e a GNR.
Felizmente, ou
infelizmente, o homem caiu da cadeira e os portugueses foram privados de beber
este cálice até ao fim.
O longo caminho que
desde aí percorremos trouxeram-nos até Passos e Costa e a esta desagradável
campanha eleitoral e quando, no próximo dia 4, for depositar o meu voto na urna
nem sequer me lembrarei já desses tempos que eu vivi em jovem, passados que
foram tantos anos.
No entanto, a campanha
eleitoral, momento importante na vida dos países democráticos europeus,
continua agora, por outros motivos a ser, para mim, dias para esquecer, para
passar ao lado.
As “massas” agitam-se,
emocionam-se, jogam sentimentos contra sentimentos, promessas de melhor vida
contra as ameaças de um desastre e os políticos mentem com a vulgaridade e ligeireza de uma brisa de um fim de tarde...
O medo confronta-se com
a esperança e uma população envelhecida, pobre e desmemoriada é acossada pelo
medo de perder o pouco que tem, ou melhor, que lhe dão.
É esse o ponto crucial
desta campanha: a instalação do medo, a grande arma de defesa e sobrevivência
dos fracos, onde não há lugar à esperança e a alternativa, mesmo que pequena, se assemelha a uma
aventura apregoada perigosa e irresponsável.
Com tantos encargos
financeiros a nossa margem para o futuro é estreita e tanto Costa como Passos
sabem disso e abstêm-se de promessas significativas.
Passos, porque as fez,
mentiu para ganhar as últimas eleições e teve que ir ao “perdoa-me” do povo
português, desculpando-se como só ele sabe, e espera agora ser perdoado nas
urnas.
Costa, porque é um político
honesto e esse nunca foi o seu estilo. Mandou até fazer um Estudo Macro – Económico
que o tem atrapalhado, mas que atesta a sua seriedade.
Ontem, a PIDE e a
Censura, hoje a manipulação psicológica dos eleitores a provocarem o medo e o
alheamento... Não são, realmente, os meus dias preferidos.
Espero pelo dia 4 para depositar
o meu voto... como sempre.
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