quinta-feira, setembro 24, 2015

A Campanha Eleitoral













Durante muitos anos as eleições no meu país foram uma farsa. Existiam apenas porque correspondiam ao conceito da democracia e de liberdade que ficava bem no contexto europeu do Pós-Guerra, depois da vitória dos aliados.

No fundo, para “inglês ver”, porque eles foram sempre uma referência neste país mesmo quando nos humilharam a propósito do Mapa-Cor-de-Rosa, em que nos ameaçaram de bombardear o Terreiro do Paço se não satisfizéssemos as suas exigências em África.

O golpe de misericórdia nas nossas eleições foi-lhe dado em 1958, quando Humberto Delgado se candidatou a Presidente da República e foi escandalosamente espoliado da vitória nas urnas para vergonha do regime de Salazar e das forças policiais que o suportavam.

O povo português não tinha, então, direito a escolher o seu líder e, desde aí, para evitar tentações, acabaram-se as eleições para Presidente da República que passaram a eleger apenas deputados para a então Assembleia Nacional.

Nós tínhamos um Presidente vitalício escolhido pela divina providência que governava com a sapiência e inspiração da Srª de Fátima e a inveja do vaidoso do Cerejeira, posto no seu lugar com o seu exército de padres, pelo Salazar com a PIDE, a Censura e a GNR.

Felizmente, ou infelizmente, o homem caiu da cadeira e os portugueses foram privados de beber este cálice até ao fim.

O longo caminho que desde aí percorremos trouxeram-nos até Passos e Costa e a esta desagradável campanha eleitoral e quando, no próximo dia 4, for depositar o meu voto na urna nem sequer me lembrarei já desses tempos que eu vivi em jovem, passados que foram tantos anos.

No entanto, a campanha eleitoral, momento importante na vida dos países democráticos europeus, continua agora, por outros motivos a ser, para mim, dias para esquecer, para passar ao lado.

As “massas” agitam-se, emocionam-se, jogam sentimentos contra sentimentos, promessas de melhor vida contra as ameaças de um desastre e os políticos mentem com a vulgaridade e ligeireza de uma brisa de um fim de tarde...

O medo confronta-se com a esperança e uma população envelhecida, pobre e desmemoriada é acossada pelo medo de perder o pouco que tem, ou melhor, que lhe dão.

É esse o ponto crucial desta campanha: a instalação do medo, a grande arma de defesa e sobrevivência dos fracos, onde não há lugar à esperança e a alternativa, mesmo que pequena, se assemelha a uma aventura apregoada perigosa e irresponsável.

Com tantos encargos financeiros a nossa margem para o futuro é estreita e tanto Costa como Passos sabem disso e abstêm-se de promessas significativas.

Passos, porque as fez, mentiu para ganhar as últimas eleições e teve que ir ao “perdoa-me” do povo português, desculpando-se como só ele sabe, e espera agora ser perdoado nas urnas.

Costa, porque é um político honesto e esse nunca foi o seu estilo. Mandou até fazer um Estudo Macro – Económico que o tem atrapalhado, mas que atesta a sua seriedade.

Ontem, a PIDE e a Censura, hoje a manipulação psicológica dos eleitores a provocarem o medo e o alheamento... Não são, realmente, os meus dias preferidos.

Espero pelo dia 4 para depositar o meu voto... como sempre.



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