quinta-feira, setembro 10, 2015

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)

Episódio Nº 55



















Era sangue de galinha, untaram-no para parecer Jesus, disse-me depois o prior. Com aquelas barbas tão sujas e tanta lama até estava idêntico a um Cristo, mas na verdade Teotónio sentia-se desiludido com o lavrador, faltava-lhe gravidade para um papel tão importante.

Pegava na cruz como quem leva distraidamente uma saca vazia e estava sempre a olhar para os secundários, vestidos de soldados romanos, esquecendo suas obrigações.

Por uma vez, quando vinha a caminho do altar, o prior até o vira a sorrir ao centurião!

 - Que descarado! O Jesus do ano passado tinha mais jeito! - comentou ele connosco depois da missa.

Já incomodado com aquela fraca prestação, o prior ainda mais se desiludiu quando, ao vê-lo ser pregado na cruz, numa trave improvisada, com falsos pregos pregados por falsos soldados, reparou que Dona Teresa nem sequer olhava para o teatro da paixão, embevecida como estava com o trava.

- Que afronta, passar a Páscoa na minha igreja ao lado do amante! Comentaria ele depois.

Era uma desonra para o Condado ter como condessa uma mulher que se deitava com um homem casado, e ainda por cima galego!

Quando os vira entrar na Igreja sorridentes e de braço dado, Teotónio ainda pensara em correr com eles dali aos gritos, mas o Jesus já entrara pela porta principal e os olhos dos presentes tinham-se virado para lá.

Passara o momento de lhes passar um sermão castigador.

Na missa era tempo de silêncio, mas como a igreja estava cheia ouvia-se o rumor das conversas e das risadas.

Do lado direito da nave central, encontrava-se a família Trava. Na primeira fila, Fernão Peres, ao lado de Dona Teresa, e Bermudo, junto à sua esposa, Urraca Henriques.

Atrás, no segundo banco, sentava-se Elvira de Trava, o seu marido, Gomes Nunes de Pombeiro, e ainda as suas belas filhas de ambos, Maria e Chamoa Gomes.


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