quinta-feira, setembro 24, 2015

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)

Episódio Nº 67 




















Curiosa, Maria Gomes perguntou:

 - Vocês nasceram em Códova?

As raparigas mouras olharam para a mãe, que lhes fez um quase imperceptível sinal de alerta e se antecipou à resposta.

- Sim. O meu marido era o governador da cidade. O Azzahrat estava sempre cheio de poetas, cantores e pintores. Vinham mercadores de longe, até de Bagdad para nos venderem tecidos e jóias.

Fátima gabou a arquitectura mourisca com um protesto:

- As vossas casas são uma desgraça! Não há claustros, pinturas nas paredes, mosaicos no chão! Viveis como pobres!

Entretanto, vinda do primeiro andar, apareceu Teresa de Celanova. Desejosa de novidades, Maria Gomes quis saber se ele tinha algumas.

Dona Teresa já falou com os vossos pais. O Lourenço é bom moço – disse-lhe a Celanova piscando-lhe o olho.

Maria Gomes endireitou-se orgulhosa, mas Chamoa perguntou:

 - E o pai dele autoriza? Egas e Dona Teresa não se estimam!

Teresa de Celanova corou ligeiramente, mas recompôs-se.

Egas Moniz é bom homem, suave e carinhoso. Ao contrário do que se diz, Dona Teresa admira-o, tem educado o príncipe muito bem.

Esta favorável opinião da rainha, que Teresa de Celanova ali repetia, era uma novidade, o que levou Zulmira a perguntar:

- Falais de Egas Moniz com ternura. Estais encantada por ele?

A outra voltou a corar e respondeu:

 - Agrada-me a sua companhia.

Desconfiada Fátima largou um murmúrio malicioso.

 - É um bocado velho para vós.

Enervada, Teresa de Celanova contestou-a:

 - Está muito bem para os seus quarenta e oito anos!

Sempre tortuosa, Fátima perguntou-lhe:

 - Mas não sois enamorada pelo Afonso Raimundes? Pelo menos é da vossa idade, não murcha. Já o velho Egas...

Zulmira repreendeu-a novamente e num esforço de cortesia deu o braço a Teresa de Celanova, conduzindo-a para a saída, enquanto ordenava às filhas que se fossem deitar.

Porém, as quatro raparigas permaneceram sentadas. Quando Celanova já não as podia ouvir Chamoa perguntou:

 - Será verdade que Afonso Raimundes a filhou?

Fátima contou o que sabia.

- Ia muito ao castelo do pai dela. Mas só se a filhou na peideira, pois dizem que ainda é virgem, para sorte do velho Egas!

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