sábado, setembro 12, 2015

Eu e o outro
O Outro

















A Europa vai receber centenas de milhar de pessoas oriundas de países do norte de África, nomeadamente da Síria, fugidos, em desespero, de um senhor chamado Al-Baghdadi que é o líder do Estado Islâmico que ultrapassou em maldade, a Al-Kaeda, instalando a tirania e o terror entre as populações apelando aos instintos mais bárbaros, radicais e primários da espécie humana.

Essas pessoas não são iguais a nós e peço desculpa por dizer isto assim, desta maneira, mas, ao contrário do que se possa pensar, ela é um bom ponto de partida para uma boa relação futura.

A cultura, constituída por hábitos alimentares, comportamentos sociais, religiosos, familiares, etc... marca diferenças entre os povos.

E teve que ser assim, não por sermos diferentes na origem, mas porque cada povo teve de se adaptar a condicionalismos diferentes para sobreviver.

A este respeito, lembro-me sempre do exemplo que um professor meu dava aos seus alunos relativamente ao que era raça e cultura.

Na década de vinte, um diplomata importante dos E.U.A., em serviço na China, faleceu com a esposa num desastre de viação deixando órfão um filho ainda jovem que foi adoptado por um casal chinês, íntimo do falecido, que o educou nas melhores normas da cultura chinesa.

Chegado aos vinte anos, o jovem, alto, atlético de olhos azuis e cabelo alourado, foi enviado à América pelos pais adoptivos que entenderam que ele devia conhecer o país dos seus pais e parentes afastados.

Poucas semanas decorridas, ele estava de volta afirmando que se sentia chinês e não se entendia com os americanos e a sua estranha maneira de viver.

Estas diferenças, tanto podem enriquecer a relação como envenená-la senão as respeitarmos como sendo coisas dos outros, do seu património.

- “Como é possível, passe o exagero, eu dar-me com alguém que não gosta de farinheira?...”

Os meus amigos sabem, com certeza, que se não fossem estas diferenças não nos deliciávamos hoje com as belas alheiras de Chaves, da imaginação dos judeus que, não podendo comer carne de porco por motivos religiosos, inventaram as alheiras que não levam a dita carne, obviamente, mas emitam muito bem os chouriços pendurados nos fumeiros das chaminés evitando, assim, ser hostilizados pelos vizinhos.

Então, esta “coisa” das religiões estabelece infelizmente diferenças que são sentidas, profundamente, como barreiras e antagonismo que ao longo dos tempos alimentaram guerras, mortes e violência, numa história triste da qual ninguém sai bem quer sejam seguidores de Cristo ou de Maomé.

Vestir de maneira diferente, comer outras coisas ou repudiar aquelas outras de que nós tanto gostamos, rezar ajoelhado de cabeça no chão e rabo para o ar, virado na direcção de Meca, em vez de mãos postas, de cabeça levantada e olhar posto na imagem de Cristo pregado numa cruz, tantas coisas diferentes que nos parecem quase uma ofensa provocatória a despertar raiva e ódio àqueles que gostam de alimentar a maldade que nos vai nos corações porque, não nos iludamos, ela também lá está.

Nós, portugueses, sempre andámos pelo mundo e recentemente pelas guerras de África que nos ensinaram a desmistificar muitas coisas a começar pelos falsos e ilusórios patriotismos.

Durante séculos, aos portos da costa que hoje é o nosso Portugal, sempre chegaram pessoas, diferentes das que aqui estavam, para comerciar connosco.

Não obstante a globalização, que vai acontecendo, o mundo ainda é grande e variado e os portugueses sabem que há muitos “outros” com os quais se têm cruzado ao longo da sua história e das suas vidas mas, em todos eles, tal como em nós, existe um mesmo coração sedento de amor e de felicidade.

Nisso, somos todos iguais.

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