sexta-feira, setembro 11, 2015

O debate
O Debate


















Na noite de 4ªFª, no meu país, em horário nobre, os três canais de televisão juntaram-se para entrevistar em conjunto os dois candidatos a liderarem o governo a partir de Outubro: o 1º Ministro Passos Coelho e António Costa, líder do partido Socialista.

Anunciado como uma espécie de combate do século, teve uma presença de quase 3,7 milhões de espectadores, provavelmente, recorde de audições.

Eu não me fiz representar nesses 3,7 milhões tendo preferido ver o Open dos E.U. em Ténis.

Sinceramente, não foi para destoar do conjunto, mas repugna-me ver a política reduzida a um espectáculo que a degrada, transformando os dois políticos mais importantes do país, um deles, inclusive, irá governar-me durante os próximos 4 anos, em contendores, espécie de pugilistas, num recinto de boxe, perante três entrevistadores que acrescentando pouco ou nada à contenda, parece prepararem-se para, no fim, declararem o vencedor.

Não gosto de ver pessoas responsáveis naquela situação, ensaiadas, programadas, aconselhadas, a debitarem respostas que foram previamente pensadas, quase todas já ditas em outras ocasiões e em grande parte conhecidas.

Sabemos que é assim, aqui e em todo o lado, sabemos igualmente que eles não se podem furtar, mas a política, naqueles moldes de confronto desportivo, deprime-me porque o futuro do país, infelizmente, pode vir a depender destes jogos de palavras, poses e gestos.

O esforço feito é de “encantamento” por uma imagem que caia bem, que seduza, que convença, que pareça a melhor, mais credível, mais honesta e, para isso, eles foram assessorados, ensaiados, retocados, por psicólogos, especialistas de marketing, alguns brasileiros, muito em voga nestas coisas e que tão boas provas têm dado no aconselhamento do povo brasileiro na escolha dos seus responsáveis políticos...

Tudo gente especializada nessa arte de ensinar os outros a “encantar”, numa magia de truques, entoações de voz, gestos, palavras, dissimulações, olhares, esgares, expressões, que desafiam o que é exigido num curso de bem representar.

Os eleitores, na grande maioria, já têm a escolha feita, ou balançam entre um e outro sem excluir a abstenção, em muitos casos, o mais provável, mas não desprezemos a importância da retórica e da dialéctica na política.

Lembro o Presidente da 1ª República Portuguesa, António José de Almeida, que visitou o Brasil e discursou de uma forma tão encantatória que um brasileiro levantou-se espontaneamente lá do meio da assistência e gritou excitado: “Este tem o meu voto!”

Aqui, não mais a beleza dos discursos, das figuras de retórica, das metáforas políticas, das grandes tiradas de improviso... ali não há lugar para nada disso. Aquilo é uma luta de "soco e pontapé".

Assisti, há quatro anos atrás, a um debate idêntico entre Passos Coelho e Sócrates. Recordo o à vontade e descontracção de Passos Coelho perante um Sócrates nervoso e comprometido.

Eu estava, então, já saturado do Sócrates, não tinha gostado de muitas das suas medidas, uma delas beneficiou-me directa mas erradamente, de um aumento de 2,9% do meu ordenado, quando era perceptível a intenção de conquistar de votos para as eleições que viria, de resto, a ganhar com maioria relativa.

Mais tarde, também para conquistar votos, a firmeza e convicção das promessas de Passos Coelho, nas vésperas de eleições, de não cortar salários e pensões para, meia dúzia de dias depois, já como 1º Ministro, levar-me o subsídio de Natal.

Faz muito bem António Costa em recordar essas promessas mentirosas, devia mesmo passá-las em filmes da sua campanha eleitoral, porque quem mente uma vez daquela forma flagrante e sem vergonha, com a desculpa esfarrapada, apresentada mais tarde, de que não sabia do estado das finanças públicas, ele, que tinha como conselheiro, Eduardo Catroga, principal negociador do PSD com a troyka e, por tanto, dentro de todas as contas, vai mentir o resto da vida, como tem feito ao longo da governação.

Desta vez, no debate com António Costa, todos dizem que não se saiu tão bem. Parece-lhe ter faltado a juventude, a alegria e o descomprometimento que exibiu com Sócrates, há mais de 4 anos, em Maio de 2011.

Ou talvez seja só o desgaste e o cansaço de 4 anos e meio de uma governação difícil e que ele tornou mais difícil ainda por ter sido frio e distante, a roçar o desprezo, relativamente aos mais pobres, mais velhos, mais jovens e mais frágeis, do país que quis governar.

Se perder as próximas eleições, perde justamente, ou melhor, merecidamente.

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