Putas, nem se fala |
Tocaia Grande
(Jorge Amado)
Episódio Nº 328
Acordado pela cantoria e pelo baticum do
bombo, o papagaio
Vá-Tomar-no-Cu alvoroçou-se no poleiro:
sacudia as asas, gritava palavrões enquanto todo o figurá se reunia para entoar
as estrofes finais:
Eu vou embora
Pra minha terra
Vou voltar meu pessoal
A última volteada na sala, o reisado
acenava adeus:
Quitariô, qui lariá
A Estrela-D Alva
Só qui lareia
lá no mar
Vacilante luz de vaga-lumes, as lanternas
das pastoras na descida da colina, atrás a população de Tocaia Grande,
acrescida do capitão Natário da Fonseca, de sia Zilda e dos filhos do casal, os
de sangue e os de criação.
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Dançaram e cantaram, comeram e beberam,
folgaram à la vonté, em diferentes casas e locais, homenageando pessoas que
haviam concorrido para a saída do reisado:
os tamanqueiros Guaraciaba e Elói Coutinho, Guido, Lupiscínio, o Turco Fadul, sai
Natalina, dona Valentina e Jucá Neves, donos da Pensão Central, sem esquecer
Coroca: a casa de madeira, na Baixa dos Sapos.
Concluíram o percurso da amizade no
deposito de cacau seco onde, ao som do bombo oferecido por Koifman & Cia, o
pastoril agradeceu a seu Carlinhos Silva o apoio e o interesse: o comprador de
cacau não perdera um só ensaio, de tudo tomando nota quando não estava batendo
coxa nos assustados.
A apoteose, porém, o nunca visto, cujo
registro se faz obrigatório, ocorreu no descampado, diante do barracão, no
local da feira, já noite fechada.
Não faltara um único vivente, à exceção de
Altamirando, conforme se contou. Das Dores, sua mulher, esteve presente, mas demorou-se
pouco; desde que deixara o sertão não tornara a ver um terno de pastoras: gostava
tanto! Vieram os moradores dos dois lados do rio, os do arraial e os dos
roçados: velhos, adultos, moços e meninos, os pequeninos da última parição escanchados
nas ancas das mães.
Quem visse aquele mundão de gente reunido
no descampado poderia até pensar que Tocaia Grande era uma vila populosa, pois das
fazendas haviam chegado levas de alugados e mateiros e o tráfego das tropas
crescera nas noites de Reis.
Putas, nem se fala.
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