sexta-feira, outubro 30, 2015

Adversário ou inimigo?
António Costa,

de adversário a inimigo





















A democracia em Portugal alargou-se, enriqueceu-se, de repente, quando ninguém o esperava, ruiu o “arco da governação”.

Durante os últimos 40 anos, para efeitos de poder efectivo no governo só contavam PS, PSD e CDS. Os deputados que representavam os restantes partidos eram denominados no hemiciclo, deputados do “Protesto”... e assim fomos vivendo:

- Os grandes líderes soviéticos morreram há muito, a República Socialista Soviética, nos últimos anos da década de 80, desmoronou-se com Mikhail Gorbachev e a sua Perestroika que pôs termo à Guerra - Fria. O Muro de Berlim cai, de seguida, e a Alemanha reunifica-se em Outubro de 1990. Álvaro Cunhal morreu há 10 anos e a Rússia, a “mãe Rússia”, mais madrasta que mãe para os russos, procura agora recuperar prestígio pela mão de Putin, enquanto Portugal adere à União Europeia em 1986.

Tudo isto se passou na Europa nos últimos 40 anos e a realidade é hoje completamente diferente mas, no nosso país, nada se alterou relativamente ao espectro político partidário.

Quem era da área do poder manteve-se, e quem era do “protesto” continuou a sê-lo. Os primeiros como adversários políticos e os outros como inimigos, embora inócuos. Os seus deputados davam cor e sabor ao Parlamento através de intervenções acaloradas, algumas de grande qualidade, por magníficos parlamentares, entre os quais Francisco Louça, que tem agora um programa seu na Televisão... e a água ia passando serena por baixo da ponte que foi de Salazar.

Mas eis senão quando, António Costa, do partido socialista, aproveitando a bizarria de um desfecho eleitoral, fruto da raiva e ódio que mais de 60% dos cidadãos expressaram nas urnas, a um 1º Ministro distante, prepotente, insensível e manipulador, resolveu ouvir os líderes desses partidos e perguntar-lhes se eles o deixariam governar com o seu programa, naturalmente com algumas cedências, porque, para fazerem figura de bonecos já bastavam os últimos 40 anos.

Aqui del´Rei!... o Costa deixou de ser adversário e passou ele, também, a inimigo -  disseram os homens do poder com as mãos na cabeça e o dedo acusatório.

O caldeirão está ao lume, o grande cozinheiro Cavaco, à volta dele, afadigado, mexe o imbróglio com a sua grande colher, altamente incomodado com tanto fumo e calor do fogo.

 - Pode, o nosso Presidente, apreciar programas de governo e dizer que a escolha de uma parte maioritária dos portugueses está errada? – Veremos dentro de dias...

Nunca a democracia portuguesa, de há 40 anos a esta parte, se apresentava tão aliciante.

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