(Domingos Amaral)
Episódio Nº 72
Os outros apoiaram-no, em
coro, mas subitamente emudeceram, pois apareceu uma mulher alta e loura, que
transportava uma bandeja com dois jarros de vinho e quatro vasos.
Os amigos apreciaram a
imponente figura que percorria a sala. Parecia uma estrangeira e não sendo perfeita
de feições, pois tinha uma cara arredondada e o nariz largo, impressionava pela
volupt uosidade do corpo.
Por debaixo das saias e da
camisa, pressentiam-se uns seios cheios e fofos, umas ancas largas e um
traseiro firme.
Enquanto ela pousava o
vinho, Afonso Henriques perguntou-lhe como se chamava, e a rapariga, mais velha
que o príncipe, talvez com vinte e cinco anos, disse que o seu nome era Elvira.
- E quanto cobras por levar
nessa bela peideira? – Excitou-se o braganção.
- Não sou soldadeira – respondeu a rapariga
sem pestanejar.
O Braganção duvidou:
- Ora! Ora! – Deves ter vindo com os jograis
que vão cantar amanhã! Para bailares e cantares e para te pores de quatro também!
Olhando em volta, perguntou
se ela tinha rufião. Havia homens que colocavam as mancebas nas estalagens,
ganhando com os serviços que elas prestavam aos cavaleiros, mas Elvira negou
que trabalhasse com tal regime, o que levou Gonçalo a indignar-se:
- Casaste com o taberneiro e
sois-lhe fiel? – Que desperdício!
Ganhais mais a chupar gaitas
do que a servir vinho!
A rapariga agarrou no
tabuleiro vazio, ignorando mais uma ignomínia. Parecia habituada àquelas piadas
e preparava-se para se afastar quando Afonso Henriques a interrogou:
- De onde sois?
Ela olhou sem sorrir e
disse:
- Nasci perto de Viseu. O meu pai morreu há
uns meses e tive de arranjar ofício. Antes aqui
do que num mosteiro.
O príncipe fez uma pequena vénia
aprovadora e comentou:
- Não pareceis de cá tão alta e com essa cor
de cabelo tão bonita.
Pela primeira vez um leve
sorriso trespassou a cara de Elvira.
- Sou descendente de normandos. Daqueles que
pilhavam as vilas e entravam pelos rios adentro.
Gonçalo franziu a testa,
- Vikings? Há mais de cem anos que não
aparecem por cá!
Convicta das suas origens,
Elvira retorqui u-lhe.
- A minha mãe e a mãe dela, e a mãe da mãe
dela eram como eu. Ficou-nos no sangue.
Colocou o tabuleiro vazio
debaixo do braço e avisou o príncipe:
- As soldadeiras já aviaram quem tinham de
aviar.
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