sexta-feira, outubro 23, 2015

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)

Episódio Nº 91




















O seu evidente talento enchera um círculo de gozo à sua volta, obrigando-nos a espreitar por cima das cabeças.

De rabo para a plateia, Fruela perguntava.

 - Ó Fernão Peres é isto que queres?

Depois da gargalhada geral, logo o irmão Ordonho, empertigando-se em imitação de um homem alto e forte, lhe retorquiu:

 - Prepara-te bem, minha campeã, vais fazer tenda toda a manhã!

A malícia atingia Dº Teresa e o seu amante, embora de forma enviesada, glorificando o Trava como macho viril, o que não era de estranhar, pois era ele que pagava aos bobos.

Porém, depressa estes desviaram o alvo e apontaram a Paio Soares.

O gorducho Fruela virou-se para o redondo Ordonho e perguntou, de mão na anca:

- Diz-me Ordonho de Compostela, vou mesmo ser mordomo dela?

O outro gargalhou com ar de quem o estava a enganar.

- Cala-te ó reles pigmeu, nem sequer mandarás no que é teu!

O humor cínico dos galegos reduzia Paio Soares a uma simples marioneta nas mãos do Trava.

Afagando o baixo ventre como se estivesse desejoso de fornicar, Fruela questionou o irmão:

 - Arranjam-me uma bela noiva para casar, onde minha velha piça possa enfiar?

A multidão soltou uma risada e Ordonho piscou o olho ao mano.

Já amanhã voltarás a filhar, minha bela sobrinha irás montar!

Afonso Henriques semicerrou os olhos irritado: os bobos espalhavam os planos do Trava, que queria oferecer Chamoa a Paio Soares, para comprar a sua submissão definitiva, e atacavam de caminho a honra da rapariga.

Fruela lançou nova interrogação, como se fosse ainda Paio Soares que falava:

 - Será ela da minha confiança, roçará as tetas só nesta pança?

Ordonho caiu de joelhos em frente do irmão, colocando um ar inocente e bramindo em voz feminina:

 - Marido Paio, parai de duvidar, à frente de outros não voltarei a ajoelhar!

Afonso Henriques suspirou, desiludido. Um a um, os portucalenses eram apoucados pela insídia galega, que humilhava os ricos-homens de Entre Douro e Minho.

Ao antigo alferes seguiu-se meu pai, Egas Moniz, que Fruela ridicularizou imitando um corcunda.

Antes de conhecer Celanova, estava com os pés para a cova!

Ordonho encheu o peito de ar rejuvenescendo:

- Mas agora que ressuscitei, com a minha piça dura lhe darei!

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