sábado, outubro 24, 2015

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)

Episódio Nº 92



















A multidão rejubilou, o que levou os bobos a insistirem no alvo.

E se o rei Afonso de Castela volta a saltar para cima dela?

Ordonho, para esclarecer o irmão, encurvou-se para imitar a posição anterior de Fruela, de velho corcunda.

Regresso á minha Lamego, cornudo mas em sossego!

Vendo meu pai ser fustigado pelo impiedoso vernáculo dos bobos galegos, eu e meus irmãos perdemos a disposição para permanecer naquela festarola.

Despedimo-nos do Gonçalo, que foi procurar soldadeiras, e acompanhados de Afonso Henriques regressamos a casa.

No caminho, em silêncio ressentido, cruzámo-nos com Elvira, que voltava ao ofício. O meu amigo príncipe disse-lhe:

 - Há pouco não queria ofender-vos.

A rapariga normanda continuou a andar mas uns metros à frente virou-se e olhou para Afonso Henriques.

 - Não haveis feito, belo príncipe.

Continuamos a caminhar, e Soeiro, o mais novo dos meus irmãos, perguntou ao príncipe porque não ia ter com Elvira, mas ele não respondeu.

Quando chegámos a casa, meu pai e meu tio conversavam à porta e pediram a Afonso Henriques que ficasse ali, admitindo também a minha presença a seu lado.

Depois de meus irmãos Afonso e Soeiro se terem ido deitar, meu pai confessou a preocupação que sentia com a traição de Paio Soares e meu tio adiantou a suspeita de que o Trava queria casar o novo mordomo com a sobrinha Chamoa.

O meu amigo Afonso Henriques encolheu os ombros.

Não vos preocupeis, isso não vai acontecer.

A sua segurança residia numa curta e discreta conversa que tivera com a mãe ao final da tarde, mas que nós ainda desconhecíamos.

Meu pai contou então que Dª Teresa e Fernão Peres tentavam procriar um filho varão, mas Afonso Henriques também não viu risco algum nessa possibilidade.

 - Um filho bastardo não herdará o Condado, Roma nunca o permitirá.

Lembro-me que meu pai e meu tio se espantaram com a forma serena e confiante com que ele falava, pois não estavam tão seguros.


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