(Domingos Amaral)
Episódio Nº 92
A multidão rejubilou, o que levou os bobos
a insistirem no alvo.
E se o rei Afonso de Castela volta a
saltar para cima dela?
Ordonho, para esclarecer o irmão,
encurvou-se para imitar a posição anterior de Fruela, de velho corcunda.
Regresso á minha Lamego, cornudo mas em
sossego!
Vendo meu pai ser fustigado pelo impiedoso
vernáculo dos bobos galegos, eu e meus irmãos perdemos a disposição para
permanecer naquela festarola.
Despedimo-nos do Gonçalo, que foi procurar
soldadeiras, e acompanhados de Afonso Henriques regressamos a casa.
No caminho, em silêncio ressentido,
cruzámo-nos com Elvira, que voltava ao ofício. O meu amigo príncipe disse-lhe:
- Há
pouco não queria ofender-vos.
A rapariga normanda continuou a andar mas
uns metros à frente virou-se e olhou para Afonso Henriques.
- Não
haveis feito, belo príncipe.
Continuamos a caminhar, e Soeiro, o mais
novo dos meus irmãos, perguntou ao príncipe porque não ia ter com Elvira, mas
ele não respondeu.
Quando chegámos a casa, meu pai e meu tio
conversavam à porta e pediram a Afonso Henriques que ficasse ali, admitindo
também a minha presença a seu lado.
Depois de meus irmãos Afonso e Soeiro se
terem ido deitar, meu pai confessou a preocupação que sentia com a traição de Paio
Soares e meu tio adiantou a suspeita de que o Trava queria casar o novo mordomo
com a sobrinha Chamoa.
O meu amigo Afonso Henriques encolheu os
ombros.
Não vos preocupeis, isso não vai
acontecer.
A sua segurança residia numa curta e
discreta conversa que tivera com a mãe ao final da tarde, mas que nós ainda
desconhecíamos.
Meu pai contou então que Dª Teresa e Fernão
Peres tentavam procriar um filho varão, mas Afonso Henriques também não viu
risco algum nessa possibilidade.
-
Um filho bastardo não herdará o Condado, Roma nunca o permitirá.
Lembro-me que meu pai e meu tio se
espantaram com a forma serena e confiante com que ele falava, pois não estavam
tão seguros.
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