domingo, outubro 25, 2015

Era por aqui que se entrava em Santarém
Hoje é Domingo
(Na minha cidade de Santarém em 25710/15)






















Morreu Maurenn O´Hara e com ela desapareceu do mundo dos vivos mais um personagem da minha juventude que há muitos anos já só vivia na minha imaginação.

A diferença, na prática, não é grande entre viver só na minha memória e morrer quando se trata de alguém que nunca conhecemos pessoalmente mas, no entanto, é sempre um pequeno choque.

Ela tinha 95 anos, quase um recorde de vivência mas, para mim, nunca terá deixado de ser uma jovem e bela mulher de aspecto inconfundível envolta em aventuras.

No princípio dos anos sessenta tudo era completamente diferente e essa diferença era tão grande que só se apercebe dela completamente quem a viveu no esplendor da sua juventude e agora, mais de cinquenta anos depois, assiste à definitiva saída de cena dos seus heróis desse tempo.

Os filmes tinham então um papel muito diferente, quando não havia ainda televisão e só o teatro, então mais divulgado do que agora, especialmente o de Revista, se ofereciam para preencher os tempos livres.

Hoje, para as pessoas da minha geração, o cinema é quase já uma curiosidade, para matar saudades, para recordar o ambiente de uma sala que nesse tempo estava normalmente cheia e agora quase sempre vazia.

Não sei quantos filmes vi da Marinne Ó Hara mas a sua imagem está na minha memória ligada a aventuras em que ela era a fiel companheira de um dos meus heróis, fosse ele o Gary Cooper ou o John Waine que, obrigatoriamente, tinha de beijar no fim para a história acabar em beleza.

Eu era, no princípio dos anos sessenta, um jovem universitário a estudar em Lisboa vivendo com um orçamento muito apertado em que, durante uns tempos, os tostões eram contados, literalmente falando, e ir ao cinema, nessa altura, era fazer uma opção, prescindir de qualquer coisa de que também gostava ou precisava.

Mergulhar, então, uma tarde, numa sala de cinema para esquecer o mundo à minha volta tinha um duplo preço só possível porque os meus heróis eram irresistíveis e absorventes.

Todos nós, jovens dessa época, estudantes em Lisboa, que iam às matinés ficámos um pouco americanizados, como os nossos heróis o eram.

Morreu Marenn Ó Hara mas a sua figura de loura arruivada, lábios pintados de encarnado vivo e lindos olhos azuis claros, vai continuar sendo, para mim, independentemente do facto de ter morrido agora, aos 95 anos, uma personagem viva do passado da minha memória e lá vai continuar até chegar a minha vez.

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