sábado, novembro 07, 2015

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)




Episódio Nº 104


















Assim, meu pai jamais se passaria para o lado dos galegos, e o seu casamento tornava ainda mais forte a pretensão de Dona Teresa de incluir essas terras nos seus domínios.

Nem os portucalenses mais recalcitrantes negavam aquela argúcia.

Mal se atenuaram as saudações aos nubentes, a rainha referiu que aquele não seria o único casamento na família Moniz. Nesse momento Dona Teresa olhou para mim e declarou:

 - A melhor espada do nosso Condado, Lourenço Viegas, varão de Ribadouro, desposará Maria Gomes, filha de Gomes Nunes e de Elvira Peres de Trava!

Mais aplausos se ouviram e vi Chamoa levantar-se, emocionada, e correr a abraçar a coradíssima irmã. Também meu amigo Afonso Henriques me abraçou, dizendo-me:

 - Assim será, como era vosso desejo!

Todos naquela sala apoiavam o meu casamento com Maria. Era uma união de um portucalense com uma Trava, mas não ia contra os interesses do Condado.

O território de Toronho, ambicionado por Dona Teresa, em teoria devia vassalagem a Afonso VII, mas na realidade girava na órbita portucalense.

Embora na aparência formal estes dois casamentos aumentassem o poder de Dona Teresa e do Trava, que obviamente os patrocinara, a prazo mais longo eram também favoráveis às pretensões futuras de Afonso Henriques.

A união com a Galiza era um desejo antigo da família, que remontava pelo menos ao conde Henrique, e mesmo tendo de aturar o Trava mais uns anos o Condado ficaria mais sólido e poderoso se lhe adicionassem as terras de Celanova e Toronho, Límia, Astorga e Zamora.

Por isso, vi o príncipe sorrir, e ele disse-me mais tarde que, por momentos, chegou a sentir admiração pela mãe. Ela não só cumpria o prometido, como lhe desenhava um futuro deveras agradável.

De repente, ouviu-se a voz de Gonçalo que se levantara:

- Casam os meus amigos e eu não?

A rainha sorriu-lhe. Sempre gostara daquele amigo do filho, que considerava um brincalhão sem maldade, e respondeu-lhe:

 - Tendes a vosso lado duas mouras casadouras. Se desejares desposar uma delas tendes de o dizer!

Os olhares dos presentes caíram sobre as raparigas muçulmanas, Fátima e Zaida, que estavam sentadas alguns lugares depois de Gonçalo e dividiam a mesma escudela.

Zulmira ficou aterrada ao ouvir a sugestão da rainha, e ainda mais quando a sua filha mais velha, sem hesitar, declarou:

 - Antes me cortem o pescoço, jamais casarei com um cristão!

O olhar brilhante e feroz de Fátima percorreu a sala, orgulhosa, sabendo que muitos pensavam como ela.

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