(Domingos
Amaral)
Episódio Nº 103
Terminadas estas
proclamações, entraram na tenda jograis, trovadores e músicos. Uma imediata
tensão se apoderou de mim e dos meus irmãos quando vimos aparecer Ordonho e
Fruela.
Contudo os bobos galegos
eram gordos mas não estúpidos e não repetiram as afiadas chalaças da véspera,
brindando aquela nobre plateia com cantigas de amigo e trovas célebres da
Galiza.
A dado momento, relembraram
El Cid, o valente combatente que décadas antes tinha batido os árabes, e
declararam-se orgulhosos por estarem entre eles um homem capaz de semelhantes
feitos, uma óbvia e encomendada alusão a Fernão Peres de Trava, que sorria
satisfeito.
A um canto da sala Ramiro e
Raimunda, cúmplices desde o dia anterior, observavam o florir do encantamento
de Afonso Henriques por Chamoa.
No entanto, ambos repararam
que a rapariga galega parecia mais solta, talvez devido ao vinho, e sorria para
os homens, pois vários lhe haviam dito que era a mais bela da tenda.
Quando terminou a actuação
dos bobos, Dona Teresa voltou a levantar-se e proclamou.
- Anuncio-vos o casamento religioso de minha
filha Sanches Henriques com Fernão Mendes, senhor de Bragança!
Ouviu-se uma salva de palmas
e o Braganção que bebera demais, enrolou a fala quando ergueu a taça na
direcção da rainha.
Trôpego, ainda qui s saudar a futura esposa, mas Gonçalo de Sousa
colocou-lhe à frente mais um vaso de vinho, o que o acalmou imediatamente.
Então Dona Teresa prosseguiu:
- Anuncio igualmente outro augusto casamento
religioso, de um dos mais importantes nobres do nosso Condado!
Afonso Henriques sentiu o
nervosismo a crescer, pois pensou que a mãe se referia a Paio Soares. Na
véspera, numa secreta conversa que tinham tido ao final da tarde, Dona Teresa
mostrara-se irritada com o amuo do antigo alferes, julgando-o uma desconsideração,
e dissera ao filho que estava adiado qualquer plano de casamento que lhe
houvesse ocorrido para o seu novo Mordomo-Mor.
Mas Afonso Henriques temia
que a mãe tivesse mudado de ideias, um desagradável hábito que mantinha há
muitos anos e só se tranqui lizou
quando a ouviu dizer:
- O meu estimado Egas Moniz, que tão bem tem
educado o meu filho, irá casar-se com a bela Teresa Afonso de Celanova!
Houve novo aplauso geral e
eu e meus irmãos juntámo-nos ao coro de felicitações ao nosso progenitor, que
olhava para a noiva embevecido.
Afonso Henriques sorriu,
também feliz. Depois de ter sofrido com a morte de Dórdia, que muito amava, o
seu precept or casava agora com uma
bela mulher.
O encantamento
justificava-se. Teres era jovem, inteligente, recatada, e ainda por cima
herdeira de territórios consideráveis.
Dona Teresa fora esperta,
dava a meu pai o que ele queria, mas dentro de um espaço onde ela também
aspirava a mandar, a margem norte do rio Minho.
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