Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)
Episódio Nº 126
Vendo que ele se mostrava
irredutível, Gonçalo encolheu os ombros e perguntou.
- Mas encontraremos Chamoa? E como poderemos
rapt á-la?
Então o príncipe olhou-me um
pouco mais calmo, e declarou que a minha presença os ajudava. Por ser noivo de
Maria Gomes, estava convidado para o casamento de Chamoa e, portanto, poderia
entrar na Maia, propriedade de Paio Soares, e dirigir-me ao castelo.
- O Lourenço vai primeiro,
verifica onde elas estão instaladas, e na véspera do casamento, pela calada da
noite, rapt amos Chamoa e trazemo-la
para Guimarães!
Na cabeça do meu melhor
amigo o plano já estava estabelecido, agora era só concretizá-lo. Contudo,
apesar de lhe ter muita lealdade e amizade senti-me na obrigação, senti-me na
obrigação de lhe relembrar que eu não podia executar um acto de tal gravidade
contra paio Soares, Dona Teresa e Fernão Peres de Trava, pois iria por em risco
o meu futuro matrimónio com Maria Gomes.
Para minha surpresa o
príncipe não se espantou com esta natural relutância, e adiantou que eu não
correria qualquer perigo. Como iria estar presente no casamento, de qualquer
forma, apenas me limitaria a ter de descobrir onde se encontrava Chamoa, no
castelo, e a avisá-la, mas depois não participaria no rapt o.
- O Gonçalo e eu conseguimos
fazê-lo! – exclamou confiante.
Apesar de desconfiados,
tanto da nobreza como da eficácia de tal gesto, acedemos a participar naquela
atrevida investida, e nessa mesma tarde saímos os três de Guimarães, cada um no
seu cavalo, tendo como destino a Maia.
Horas depois, quando a noite
já caía, chegámos aos arrabaldes da povoação, e logo verificámos que havia
muita agitação em seu redor.
As comitivas mais
importantes já tinham chegado, e viam-se também muitos populares e inúmeros
mendigos, que vinham tentar a sua sorte naquela festa.
Além do Trava e de Dona
Teresa, acabava de assentar arraias também Paio Mendes. O prelado de Braga era
familiar do noivo e vinha ministrar o sacramento aos nubentes.
- O arcebispo não vos vai
perdoar esta desfeita! – alarmou-se Gonçalo.
Não seria assim,
confidenciou-nos o príncipe. Dias antes estivera em Braga e o arcebispo não só
estava informado dos seus desejos como os incentivara.
Também ele considerava Paio
Soares um traidor aos portucalenses e embora estivesse obrigado a oficiar o
casamento, por ser da família, desejava frustrar os desejos do Trava e de Dona
Teresa e evitar que Paio Soares se mudasse definitivamente para o partido
deles.
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