sexta-feira, dezembro 04, 2015

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)

Episódio Nº 126

 























Vendo que ele se mostrava irredutível, Gonçalo encolheu os ombros e perguntou.

 - Mas encontraremos Chamoa? E como poderemos raptá-la?

Então o príncipe olhou-me um pouco mais calmo, e declarou que a minha presença os ajudava. Por ser noivo de Maria Gomes, estava convidado para o casamento de Chamoa e, portanto, poderia entrar na Maia, propriedade de Paio Soares, e dirigir-me ao castelo.

- O Lourenço vai primeiro, verifica onde elas estão instaladas, e na véspera do casamento, pela calada da noite, raptamos Chamoa e trazemo-la para Guimarães!

Na cabeça do meu melhor amigo o plano já estava estabelecido, agora era só concretizá-lo. Contudo, apesar de lhe ter muita lealdade e amizade senti-me na obrigação, senti-me na obrigação de lhe relembrar que eu não podia executar um acto de tal gravidade contra paio Soares, Dona Teresa e Fernão Peres de Trava, pois iria por em risco o meu futuro matrimónio com Maria Gomes.

Para minha surpresa o príncipe não se espantou com esta natural relutância, e adiantou que eu não correria qualquer perigo. Como iria estar presente no casamento, de qualquer forma, apenas me limitaria a ter de descobrir onde se encontrava Chamoa, no castelo, e a avisá-la, mas depois não participaria no rapto.

- O Gonçalo e eu conseguimos fazê-lo! – exclamou confiante.

Apesar de desconfiados, tanto da nobreza como da eficácia de tal gesto, acedemos a participar naquela atrevida investida, e nessa mesma tarde saímos os três de Guimarães, cada um no seu cavalo, tendo como destino a Maia.

Horas depois, quando a noite já caía, chegámos aos arrabaldes da povoação, e logo verificámos que havia muita agitação em seu redor.

As comitivas mais importantes já tinham chegado, e viam-se também muitos populares e inúmeros mendigos, que vinham tentar a sua sorte naquela festa.

Além do Trava e de Dona Teresa, acabava de assentar arraias também Paio Mendes. O prelado de Braga era familiar do noivo e vinha ministrar o sacramento aos nubentes.

- O arcebispo não vos vai perdoar esta desfeita! – alarmou-se Gonçalo.

Não seria assim, confidenciou-nos o príncipe. Dias antes estivera em Braga e o arcebispo não só estava informado dos seus desejos como os incentivara.

Também ele considerava Paio Soares um traidor aos portucalenses e embora estivesse obrigado a oficiar o casamento, por ser da família, desejava frustrar os desejos do Trava e de Dona Teresa e evitar que Paio Soares se mudasse definitivamente para o partido deles.

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