(Domingos do Amaral)
Episódio Nº 133
E têm de se despachar. Venho de Santarém onde
está um grupo de mouros, talvez quarenta. O chefe chama-se Abu Zakaria, dizem
que é um grande guerreiro e vai invadir Coimbra.
Ramiro franziu a testa,
duvidando:
- Ninguém toma a cidade com tão poucos homens!
Mem desconfiava, contudo, de
que o fossado tinha outros objectivos. Contou a Ramiro o que ouvira dizer sobre
as três mouras.
- Vi-as em Viseu, mas pensava que tinham ido a
Ricobayo com Dona Teresa. Porque é que os serracenos as querem? – perguntou
Ramiro.
O almocreve revelou-lhe que
Zulmira era mulher de Taxfin, antigo governador de Córdova, que tratava Fátima
e Zaida como suas filhas, embora se dissesse que elas eram de estirpe mais
elevada.
Curioso, Ramiro, perguntou.
- Como sabeis tanta coisa?
Mem disse-lhe que era muito
bem sucedido com as mulheres, e elas falavam muito com ele, antes e depois de
folgarem.
Quando me relatou esta primeira
conversa com Ramiro, Mem confidenciou-me que notou no outro um evidente
desprezo.
- Não se deve confiar em
mulheres, são muito mentirosas.
Mem limitava-se a encolher
os ombros e a perguntar a Ramiro.
- E quem não é?
O almocreve era assim:
simples, directo e quase sempre verdadeiro. Examinou os homens que trabalhavam
e comentou:
- Alguns destes são como mulheres.
Ramiro foi incapaz de o
negar. Porém, Mem não insistiu no assunto e perguntou, baixando a voz.
- Gondomar já vos falou numa relíqui a?
Ramiro espantou-se, era a
segunda vez que ouvia aquela pergunta. Desconfiado, interrogou o almocreve:
- Sabeis se vivia aqui
uma bruxa? – Quando chegámos havia caveiras e ossos. Vi uma mulher ontem a
tapar a entrada de uma caverna.
Era velha e feia e disse que
os serracenos estavam a chegar. Mencionou uma relíqui a,
como vós. Conheceis essa mulher?
Mem admitiu que já a
conhecera nas suas viagens.
Tem as ideias confusas, é
difícil de percebê-la. Ramiro acrescentou:
- Diz que a morte vem aí. Talvez esteja com
medo de morrer.
Mem anuiu com um aceno de
cabeça:
- Deve ser isso, ela é muito velha.
Nesse momento, o velho
cavaleiro de manto branco saíu da torre. No olho ferido de Gondomar já não se
viam ligaduras, mas as pálpebras estavam sempre a fechar-se.
Com a palma da mão junto à
testa para se proteger da intensa luz do
sol, ordenou a Ramiro que comandasse o grupo durante a sua ausência e depois
subiu para a carroça de Mem e ambos partiram para Coimbra.
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