(Domingos Amaral)
Episódio Nº 161
Ao ouvi-lo o Rato murmurou, olhando para
Ramiro:
-
Este é como vós. Mal chegam começam logo a acusar-nos!
Indignado, Martinho enfrentou-o e
vociferou.
-
Deus não admite esses pecados! Sois um uranista! Ides arder nos infernos!
O Rato riu-se com desdém e ripostou:
-
Deus também não admite que os bispos forniquem, e como sabeis, eles parecem
coelhos!
O Ameixa e o Velho riram-se, bem como o
Santinho, o Peida Gorda e mais dois cavaleiros que se tinham, entretanto
aproximado.
Martinho compreendeu de imediato que seria
impossível aqueles homens levarem em conta as suas palavras. Eram demasiado
rudes para mudar.
Except o
Ramiro que ainda podia ser salvo.
-
Sois o novo chefe, espero que compreendais as vossas obrigações para com Deus e
para com os homens! – disse-lhe.
Para o acalmar, Ramiro afirmou:
-
Estai descansado, padre Martinho. Tomarei providências.
Anos depois, o Rato contou-me que naqueles
dias já andava irritado com Ramiro. Considerava-o um sonso e chamava-o de
“lindinho”, pois tinha a certeza que ele tinha desejos semelhantes aos dele
embora ainda escondidos.
Talvez o Rato tivesse razão. Seja como
for, nessa tarde o mais importante que se passou foi algo que não foi dito.
Gondomar sabia que fora Paio Soares a
esconder a relíqui a com o conde, mas
nunca o contou a Ramiro nem ao pároco Martinho de Soure. Se o houvesse feito,
talvez ambos se tivessem empenhado mais em procurar a bruxa.
Se há coisa que continuo a encontrar nesta
minha investigação é a permanente facilidade com que tudo podia ser descoberto
e não foi.
As pessoas não falavam umas com as outras
e o segredo ia sobrevoando todas elas, sem nunca se desvendar.
Coimbra, Julho de 1127
Há sempre um dia em que a vida das pessoas
se pode complicar e tornar perigosa. Como me disse Zaida, com sua mãe Zulmira
esse momento aconteceu quando ela ouviu Sanchinha de Trava a choramingar no
berço, ao passar à porta do quarto da rainha.
Olhou lá para dentro e não viu ninguém,
nem sequer a ama que ali costumava estar sentada. A bébé pareceu senti-la
aumentando o choro e ela comoveu-se.
Entrou, pegou na criança ao colo e tentou
acalmá-la. Estava com gases, mexia muito as pernas e Zulmira virou-a de barriga
para baixo e pousou-a no ombro direito, para que a pressão dos seus ossos
aliviasse a menina.
Dona Teresa ao entrar no quarto pouco
depois, pareceu atingida por um raio ao ver Zulmira com a filha naquela posição.
-
Vós! Eu conheço-vos de Toledo!
A rainha tivera uma visão do passado,
lembrara-se do seu irmão Sancho, em criança, e de uma mulher que também o
pegava assim.
Poisai a minha filha no berço! – gritou.
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