sexta-feira, fevereiro 12, 2016

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)

Episódio Nº 188




















Santiago de Compostela, Outubro de 1127





Em frente ao monumento tumular onde há mais de trezentos anos repousavam as ossadas do apóstolo Santiago, Afonso Henriques e Afonso VII, ambos ajoelhados, rezam uma oração.

As comitivas tinham vindo juntas, desde Guimarães, atravessando o Rio Minho em Tui, e seguido a estrada que tantos peregrinos tomavam até àquela a que chamavam a Roma do Ocidente.

Na igreja, eu estava suficientemente perto para escutar a conversa entre primos que se seguiu. Terminada a reza, Afonso VII, recordou os tempos de infância, quando haviam brincado ali, em dias de festas religiosas.

Depois queixou-se da balbúrdia que herdara na Península, culpando Dona Urraca.

Não sei o que pensais de vossa mãe, mas a minha era impossível! Com os homens, então, que desatino! Era um atrás do outro, nobres e condes, e sei lá mais quantos! Até com o confessor se aviava!

Afonso Henriques, notando semelhanças, comentou:

 - Deve ser de família.

 - O que lhes corre nas veias? Vinho? – gozou Afonso VII.

Declarou-se de acordo com o arcebispo Gelmires: as mulheres não sabiam governar! Eram loucas e inconstantes, perdiam-se de amores e enciumavam-se, gerando conflitos inúteis e terríveis.

- Deus me perdoe mas desejei tantas as vezes a morte de minha mãe! Demorou, mas Ele ouviu-me! – congratulou-se o rei.

O príncipe olhou-o, satisfeito, pois o preconceito do primo servia-lhe na perfeição, e relembrou suspeitas antigas:

- Dizem que vossa mãe terá envenenado o meu pai com peçonha em Astorga. Por isso estava daquela cor quando o vi.

Espantado, o rei de Leão ripostou.

 - Não acrediteis nisso, são boatos maliciosos. Aquele rumor nunca fora totalmente confirmado. Olhando para o príncipe, Afonso VII acrescentou:

 - Também ouvi falar dessa relíquia que vosso pai teria escondido.

Afonso Henriques confirmou-lhe a lenda, à qual nunca dera muita importância.

Aparentemente, o conde Henrique não revelara a ninguém o segredo.

Ao ouvir o primo falar no pai, o rei ficou melancólico e suspirou:

 - Mal conheci o meu, Raimundo de Borgonha, e tenho pena. Era mais um traço comum aos dois.

Raimundo morrera quando Afonso Raimundes tinha dois anos, e seu primo Henrique de Borgonha falecera quando Afonso Henriques tinha três.

As mães haviam-nos entregado a ambos nas mãos de percetores.


 Afonso Henriques vivera com a família Moniz de Ribadouro, e Afonso Raimundes com Pedro Froilaz, conde de Trava.

Site Meter