quinta-feira, fevereiro 25, 2016

Assim Nasceu Portugal
(Domingos do Amaral)

Episódio Nº 199



















Soure, Abril de 1128


A morte de Gondomar é um acontecimento desprovido de qualquer mistério. O assassin matou-o. O mistério foi outro e nunca se clarificou.

Talvez, quando eu terminar esta investigação, isso se consiga, mas para já ainda ninguém compreendeu o que levou Gondomar a ir sozinho ter com a bruxa.

Qual a ligação entre eles? Quereria propor-lhe algum acordo? Julgaria que a bruxa lhe revelaria o esconderijo da relíquia? Em troca de quê? À luz do que mais tarde descobrimos, é possível, mas à falta de confirmação clara resta-me descrever os momentos finais do mestre templário.



Ao final da manhã daquele dia, a carroça de Mem parou na alcáçova de Soure, trazendo de volta Gondomar, enrolado no seu manto branco, mas bastante pálido e fraco, com um ar muito doente.

O Rato e o Velho correram para ele, e um outro cavaleiro que vinha na carroça, e que se apresentou como Jean Raymond Bernard de Claraval, ajudou-os a descê-lo.

Já dentro da torre de menagem, o mestre juntou os seus vários cavaleiros e o pároco Martinho, e reportou a sua viagem.

Estivera em França, onde falara com Bernard de Claraval, e trouxera com ele Jean, que o iria substituir como mestre da Ordem no Condado Portucalense, pois estava muito doente. Acrescentou que aquela teria em breve um novo nome e um novo juramento.

Surpreendido, Ramiro perguntou:

 - Jean passará a comandar em Soure?

Gondomar confirmou a alteração, tendo agradecido a Ramiro os seus préstimos durante aqueles meses. De seguida, com ar solene, relembrou que o Condado Portucalense entrara em guerra.

O castelo de Vila da Feira já tinha sido tomado pelas tropas fiéis ao príncipe. Os nobres portucalenses estavam finalmente a rebelar-se contra a rainha e o Trava, que se encontravam agora em Coimbra, reunindo forças para atacar Guimarães.

Preocupado, Ramiro perguntou:

 - Soure pertence a Dona Teresa, e Fernão Peres de Trava é o governador de Coimbra. Vamos lutar de que lado?

Gondomar informou-os que os monges da Ordem não iriam envolver-se na luta entre os cristãos, mas que era imperioso encontrar a relíquia.

Bernard de Claraval estava crente de que, se ela fosse entregue a Afonso Henriques, o príncipe seria invencível a combater os mouros e conseguiria a paz entre os cristãos.

A guerra contra a mãe poderia ser evitada, e por isso Gondomar desejava desesperadamente, encontrar o artefacto sagrado.

- Será a minha última missão. Depois o Jean tem de entregá-la a Afonso Henriques. E depressa!

Sentindo-se fraco e sem forças, o mestre sentou-se. Havia alguma preocupação no olhar dos outros, sobretudo do Velho.

Gondomar inspirou várias vezes, e só depois acrescentou:

 - Antes da minha partida, o Ramiro falou de uma bruxa que vivia numa caverna e sabia da relíquia. Quero ir ter com ela.

Ramiro relembrou como a conhecera e que, depois dos combates com Abu Zakaria, nunca mais ninguém a vira, incluindo o almocreve Mem.

Todavia, Gondomar não esmoreceu.


- Tenho de encontrá-la! – exclamou.

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