(Domingos do Amaral)
Episódio Nº 199
Soure, Abril de 1128
A morte de Gondomar é um
acontecimento desprovido de qualquer mistério. O assassin matou-o. O mistério foi outro e nunca se clarificou.
Talvez, quando eu terminar
esta investigação, isso se consiga, mas para já ainda ninguém compreendeu o que
levou Gondomar a ir sozinho ter com a bruxa.
Qual a ligação entre eles? Quereria
propor-lhe algum acordo? Julgaria que a bruxa lhe revelaria o esconderijo da
relíqui a? Em troca de quê? À luz do
que mais tarde descobrimos, é possível, mas à falta de confirmação clara
resta-me descrever os momentos finais do mestre templário.
Ao final da manhã daquele
dia, a carroça de Mem parou na alcáçova de Soure, trazendo de volta Gondomar,
enrolado no seu manto branco, mas bastante pálido e fraco, com um ar muito
doente.
O Rato e o Velho correram
para ele, e um outro cavaleiro que vinha na carroça, e que se apresentou como
Jean Raymond Bernard de Claraval, ajudou-os a descê-lo.
Já dentro da torre de
menagem, o mestre juntou os seus vários cavaleiros e o pároco Martinho, e
reportou a sua viagem.
Estivera em França, onde
falara com Bernard de Claraval, e trouxera com ele Jean, que o iria substituir
como mestre da Ordem no Condado Portucalense, pois estava muito doente.
Acrescentou que aquela teria em breve um novo nome e um novo juramento.
Surpreendido, Ramiro
perguntou:
- Jean passará a comandar em Soure?
Gondomar confirmou a
alteração, tendo agradecido a Ramiro os seus préstimos durante aqueles meses.
De seguida, com ar solene, relembrou que o Condado Portucalense entrara em
guerra.
O castelo de Vila da Feira
já tinha sido tomado pelas tropas fiéis ao príncipe. Os nobres portucalenses
estavam finalmente a rebelar-se contra a rainha e o Trava, que se encontravam
agora em Coimbra, reunindo forças para atacar Guimarães.
Preocupado, Ramiro
perguntou:
- Soure pertence a Dona Teresa, e Fernão Peres
de Trava é o governador de Coimbra. Vamos lutar de que lado?
Gondomar informou-os que os
monges da Ordem não iriam envolver-se na luta entre os cristãos, mas que era
imperioso encontrar a relíqui a.
Bernard de Claraval estava
crente de que, se ela fosse entregue a Afonso Henriques, o príncipe seria
invencível a combater os mouros e conseguiria a paz entre os cristãos.
A guerra contra a mãe
poderia ser evitada, e por isso Gondomar desejava desesperadamente, encontrar o
artefacto sagrado.
- Será a minha última
missão. Depois o Jean tem de entregá-la a Afonso Henriques. E depressa!
Sentindo-se fraco e sem
forças, o mestre sentou-se. Havia alguma preocupação no olhar dos outros,
sobretudo do Velho.
Gondomar inspirou várias
vezes, e só depois acrescentou:
- Antes da minha partida, o Ramiro falou de
uma bruxa que vivia numa caverna e sabia da relíqui a.
Quero ir ter com ela.
Ramiro relembrou como a
conhecera e que, depois dos combates com Abu Zakaria, nunca mais ninguém a
vira, incluindo o almocreve Mem.
Todavia, Gondomar não
esmoreceu.
- Tenho de encontrá-la! –
exclamou.
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