(Domingos
do Amaral)
Episódio Nº 210
Um esperado silêncio
manteve-se depois de ele terminar. Afonso Henriques permanecia sério, a olhar
para o chão, e o mordomo – mor vendo que ninguém falava, perguntou:
- Que devo dizer a Dona Teresa?
O príncipe olhou-o e
declarou em voz pousada:
- Nobre Paio Soares o vosso lugar é aqui , ao pé dos portucalenses!
Depois, aproximando-se dele,
disse:
_ Minha mãe deve pensar que
estou a guerreá-la por capricho...
O Condado está mal
governado, o povo sofre com fome, Braga continua prejudicada, os nobres
portucalenses estão contra ela e contra o Trava! Compreendeis Paio Soares?
O marido de Chamoa
preparava-se para responder mas Afonso Henriques levantou a mão, dando a
entender que não terminara.
- Minha mãe terá de
abandonar a regência do Condado, e de ir viver para Astorga ou Zamora, onde
poderá continuar a aspirar ao reino de Galiza. E Fernão Peres de Trava tem de
retirar-se para a sua terra!
Houve um contentamento geral
entre os portucalenses, mas paio soares avisou que tal proposta jamais seria
aceite! Contudo, o príncipe notou um sorriso subtil em Peres Cativo e,
intrigado, perguntou:
- O que vos faz sorrir a
minha proposta ou a da minha mãe?
Paio Soares olhou para o seu companheiro,
surpreendido, mas Peres Cativo não se atemorizou e declarou em voz segura:
- As condições de vossa mãe são inaceitáveis,
porque colocam nas mãos de Afonso VII as decisões importantes, nada vos
garantindo até lá. Mas as vossas também me parecem violentas de mais.
Depois de uma curta pausa,
acrescentou:
- O Conde Pedro Froilaz não me cedeu os seus
homens, pois diz que seu filho Fernão Peres deve regressar à Galiza, para
tratar da esposa e dos filhos legítimos.
Os portucalenses aprovaram
enquanto Pais Soares ficou pasmado, e ainda mais quando o seu companheiro de
embaixada afirmou, com grande atrevimento:
- Talvez seja possível
convencê-lo disso, evitando essa batalha.
Afonso Henriques abanou a
cabeça, descrente que alguém conseguisse demover o Trava, mas mesmo assim
disse:
- Está nas vossas mãos.
Então Peres Cativo
perguntou:
- Poderei dizer a Dona Teresa que, se Fernão
Peres se afastar e regressar a Galiza, não haverá guerra?
Afonso Henriques observou os
nobres portucalenses. A fúria deles contra a rainha devia-se, sobretudo, ao
Trava. Sem o galego, talvez eles se reconciliassem com Dona Teresa. Ermígio e
Egas confirmaram isso mesmo, com acenos de cabeça aprovadores.
Será um primeiro passo para
a paz – afirmou o príncipe.
Depois, olhando para Paio
Soares, relembrou:
- Se vos arrependerdes, sereis bem recebido
entre nós.
Mirou Peres Cativo e
acrescentou:
- E vós também, fazem-nos falta homens
inteligentes.
Embora parecesse
contrariado, Paio Soares, alegou que teria de manter se fiel às suas lealdades.
Não desejava trair Dona Teresa, nem o tio da sua esposa, embora considerasse
que a guerra podia ser evitada, e que o príncipe, os nobres, o clero e o povo
todos tinham legítimas razões e queixas, que deviam ser escutadas pela rainha.
Contudo, Afonso Henriques
não pareceu ter valorizado a subtileza dos seus argumentos, e limitou-se a
semicerrar os olhos, furioso.
- Se não abandonais o Trava
nada mais tenho a dizer-vos. Regressai para junto dele e de minha mãe, e de
caminho despedi-vos de Chamoa, que em breve será minha.
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home