sexta-feira, março 11, 2016

Assim Nasceu Portugal
 (Domingos do Amaral)

Episódio Nº 210



















Um esperado silêncio manteve-se depois de ele terminar. Afonso Henriques permanecia sério, a olhar para o chão, e o mordomo – mor vendo que ninguém falava, perguntou:

 - Que devo dizer a Dona Teresa?

O príncipe olhou-o e declarou em voz pousada:

 - Nobre Paio Soares o vosso lugar é aqui, ao pé dos portucalenses!

Depois, aproximando-se dele, disse:

_ Minha mãe deve pensar que estou a guerreá-la por capricho...

O Condado está mal governado, o povo sofre com fome, Braga continua prejudicada, os nobres portucalenses estão contra ela e contra o Trava! Compreendeis Paio Soares?

O marido de Chamoa preparava-se para responder mas Afonso Henriques levantou a mão, dando a entender que não terminara.

- Minha mãe terá de abandonar a regência do Condado, e de ir viver para Astorga ou Zamora, onde poderá continuar a aspirar ao reino de Galiza. E Fernão Peres de Trava tem de retirar-se para a sua terra!

Houve um contentamento geral entre os portucalenses, mas paio soares avisou que tal proposta jamais seria aceite! Contudo, o príncipe notou um sorriso subtil em Peres Cativo e, intrigado, perguntou:

- O que vos faz sorrir a minha proposta ou a da minha mãe?

 Paio Soares olhou para o seu companheiro, surpreendido, mas Peres Cativo não se atemorizou e declarou em voz segura:

 - As condições de vossa mãe são inaceitáveis, porque colocam nas mãos de Afonso VII as decisões importantes, nada vos garantindo até lá. Mas as vossas também me parecem violentas de mais.

Depois de uma curta pausa, acrescentou:

 - O Conde Pedro Froilaz não me cedeu os seus homens, pois diz que seu filho Fernão Peres deve regressar à Galiza, para tratar da esposa e dos filhos legítimos.

Os portucalenses aprovaram enquanto Pais Soares ficou pasmado, e ainda mais quando o seu companheiro de embaixada afirmou, com grande atrevimento:

- Talvez seja possível convencê-lo disso, evitando essa batalha.

Afonso Henriques abanou a cabeça, descrente que alguém conseguisse demover o Trava, mas mesmo assim disse:

- Está nas vossas mãos.

Então Peres Cativo perguntou:

 - Poderei dizer a Dona Teresa que, se Fernão Peres se afastar e regressar a Galiza, não haverá guerra?

Afonso Henriques observou os nobres portucalenses. A fúria deles contra a rainha devia-se, sobretudo, ao Trava. Sem o galego, talvez eles se reconciliassem com Dona Teresa. Ermígio e Egas confirmaram isso mesmo, com acenos de cabeça aprovadores.

Será um primeiro passo para a paz – afirmou o príncipe.

Depois, olhando para Paio Soares, relembrou:

 - Se vos arrependerdes, sereis bem recebido entre nós.

Mirou Peres Cativo e acrescentou:

 - E vós também, fazem-nos falta homens inteligentes.

Embora parecesse contrariado, Paio Soares, alegou que teria de manter se fiel às suas lealdades. Não desejava trair Dona Teresa, nem o tio da sua esposa, embora considerasse que a guerra podia ser evitada, e que o príncipe, os nobres, o clero e o povo todos tinham legítimas razões e queixas, que deviam ser escutadas pela rainha.

Contudo, Afonso Henriques não pareceu ter valorizado a subtileza dos seus argumentos, e limitou-se a semicerrar os olhos, furioso.


- Se não abandonais o Trava nada mais tenho a dizer-vos. Regressai para junto dele e de minha mãe, e de caminho despedi-vos de Chamoa, que em breve será minha. 

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