quinta-feira, março 10, 2016

Marcelo - Presidente da República
Marcelo

















Eu sei, todos sabemos que a margem que temos para gerir o nosso destino é estreita. Perdemo-la para os credores, para a dívida, negociámo-la com Bruxelas, enfim... é a vida, como disse, um dia, António Guterres.

Mas, com margem estreita ou larga, viver num país em que a figura máxima, o Presidente da República, é Cavaco Silva ou Marcelo Rebelo de Sousa, está longe de ser a mesma coisa... muito longe!

Claro que eu já sabia disto, e os meus concidadãos igualmente, mas, quando ontem vi Marcelo – o único Presidente da democracia portuguesa a quem podemos tratar apenas pelo seu primeiro nome – passar o portão do Palácio de Belém e subir sozinho a pequena rampa até à porta de entrada, num passo apressado de quem tem horas a cumprir para com as obrigações, e compara com imagem idêntica, de há cinco anos atrás, em que Cavaco Silva se recria, levando de mãos dadas toda a família em pose majestática e triunfal, sorrisos rasgados, a passar pelo mesmo portão e a subir a curta alameda, tive a confirmação de como o meu papel de cidadão deste país europeu, que é o meu, tinha dado um salto de gigante.

De repente, uma aragem de dignidade invadiu-me a alma. Tinha deixado para trás o país da aldeia-da-roupa-branca para entrar na Europa civilizada e moderna.

Claro que também sei, que como dizem os entendidos, a História vai julgar este homem que esteve vinte anos, metade como 1º Ministro e outros tantos como Presidente da República, a liderar o país, sempre eleito democraticamente.

Pois bem, que venha a História e o julgue que a mim não me interessa esse julgamento, seja ele qual for, não me diz respeito.

O que me importa, é o que me vai agora na alma de cidadão deste país, é este sentimento de profundo alívio, de sentida alegria, do despertar de uma longa noite de tristeza política que foi, contra a minha vontade, a de ver aquele homem, presunçoso, egoísta, cinzentão, sonso e inculto, representar-me como o mais alto magistrado da Nação.

Ontem à noite, o meu sorriso só tinha paralelo no das crianças de que Marcelo se fez rodear e que, espontaneamente, abraçava com carinho.

Sim, ao 76 anos, eu era ontem à noite como uma criança feliz, não porque me viessem dar fosse o que fosse. Nada espero de Marcelo que nada tem para me dar em bens materiais, dos que têm a ver com a minha carteira, que é no que as pessoas logo pensam, não, ontem à noite eu sentia-me feliz apenas pela companhia daquele homem, da sua presença naquele lugar, com um boné na cabeça, uma manta pelas pernas, rodeado de crianças.

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