Marcelo - Presidente da República |
Marcelo
Eu sei, todos sabemos que a margem que temos
para gerir o nosso destino é estreita. Perdemo-la para os credores, para a
dívida, negociámo-la com Bruxelas, enfim... é a vida, como disse, um dia,
António Guterres.
Mas, com margem estreita ou larga, viver num
país em que a figura máxima, o Presidente da República, é Cavaco Silva ou
Marcelo Rebelo de Sousa, está longe de ser a mesma coisa... muito longe!
Claro que eu já sabia disto, e os meus
concidadãos igualmente, mas, quando ontem vi Marcelo – o único Presidente da democracia
portuguesa a quem podemos tratar apenas pelo seu primeiro nome – passar o portão do Palácio de Belém e subir sozinho a pequena
rampa até à porta de entrada, num passo apressado de quem tem horas a cumprir para
com as obrigações, e compara com imagem idêntica, de há cinco anos atrás, em que Cavaco Silva
se recria, levando de mãos dadas toda a família em pose majestática e triunfal,
sorrisos rasgados, a passar pelo mesmo portão e a subir a curta alameda, tive a
confirmação de como o meu papel de cidadão deste país europeu, que é o meu,
tinha dado um salto de gigante.
De repente, uma aragem de dignidade invadiu-me
a alma. Tinha deixado para trás o país da aldeia-da-roupa-branca para entrar na Europa civilizada e moderna.
Claro que também sei, que como dizem os
entendidos, a História vai julgar este homem que esteve vinte anos, metade como
1º Ministro e outros tantos como Presidente da República, a liderar o país,
sempre eleito democraticamente.
Pois bem, que venha a História e o julgue que a
mim não me interessa esse julgamento, seja ele qual for, não me diz respeito.
O que me importa, é o que me vai agora na alma
de cidadão deste país, é este sentimento de profundo alívio, de sentida
alegria, do despertar de uma longa noite de tristeza política que foi, contra a
minha vontade, a de ver aquele homem, presunçoso, egoísta, cinzentão, sonso e
inculto, representar-me como o mais alto magistrado da Nação.
Ontem à noite, o meu sorriso só tinha paralelo
no das crianças de que Marcelo se fez rodear e que, espontaneamente, abraçava
com carinho.
Sim, ao 76 anos, eu era ontem à noite como uma
criança feliz, não porque me viessem dar fosse o que fosse. Nada espero de
Marcelo que nada tem para me dar em bens materiais, dos que têm a ver com a
minha carteira, que é no que as pessoas logo pensam, não, ontem à noite eu
sentia-me feliz apenas pela companhia daquele homem, da sua presença naquele
lugar, com um boné na cabeça, uma manta pelas pernas, rodeado de crianças.
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