(Domingos Amaral)
Episódio Nº 255
Guimarães, Novembro de 1130
No dia seguinte ao enterro de Dona Teresa,
poucas horas depois de termos chegado de Braga, um cavaleiro solitário
aproximou-se do castelo de Guimarães e entrou pelas portas da muralha, enrolado
numa manta tentando proteger-se das grossas bátegas que o fustigavam.
Por o considerarem inofensivo, os soldados
deixaram-no avançar, mas só no pátio da alcáçova Chamoa retirou o capuz. Ao
vê-la eu e Gonçalo chamamos umas serviçais para a ajudarem.
Minha esposa Maria apareceu e abraçou a
irmã e abraçou a irmã, emocionada, perguntando-lhe o que se passava. Chamoa
apenas respondeu:
-
Ganhei juízo.
Só quando entramos na torre de menagem e
nos dirigimos à sala, é que Afonso Henriques viu a rapariga galega. Ficou
espantado e mudo a olhar para ela, mas Chamoa avançou de imediato na sua direcção,
lançou-se a seus pés, dizendo.
-
Perdoai-me.
Ainda atordoado, o meu melhor amigo
franziu a testa, pois não sabia a que faltas ou pecados ela se referia.
Se alguém tem de perdoar sois vós e não
eu.
Recordava a violenta luta com Paio Soares
e a quebra da promessa que fizera a Chamoa. Porém, ainda no chão, esta
ripostou:
-
Não, meu príncipe, eu é que falhei, menti-vos.
Afonso Henriques continuava surpreendido,
mas o seu fascínio era tal que se baixou para levantar Chamoa, afirmando:
-
Seja o que for que haveis feito não vos quero a meus pés.
Aquelas palavras revelavam que ainda
existia muita ternura no seu coração, e ela sorriu, mas logo de seguida fechou
os olhos e murmurou pesarosa:
-
Não mereço a vossa gratidão.
O príncipe ignorou esta última frase e
puxando-lhe a mão obrigou-a a erguer-se. Depois olhou-a intensamente e
declarou:
-
Que bom ver-vos. Continuais tão bela como sempre.
No entanto, Chamoa, permanecia agitada e
então, sua irmã Maria aproximou-se dela e perguntou-lhe:
- Que
se passou?
A rapariga galega revelou que abandonara o
mosteiro de véspera, a meio da noite, e tivera de se esconder num estábulo
perto de Varão, só retornando à estrada de manhã.
Cavalgara várias horas, sozinha e debaixo
de chuva, perdera-se duas vezes, e por isso demorara mais de um dia a chegar a
Guimarães. Justificou-se dizendo que não aguentava a vida no mosteiro, as
regras, a antipatia das monjas.
Como vos compreendo - murmurou Afonso Henriques.
De seguida, confessou o que considerava
ser a sua traição. Fora visitada pelo primo Mem Torres e, sem se dar conta da
gravidade do que dizia, revelou-lhe o segredo de Paio Soares.
- Na véspera da batalha de São Mamede, eu
e Paio conversámos noite fora. Contei a meu primo o que meu marido me revelou
mas nunca pensei que Mem Tougues me fosse trair – declarou Chamoa.
Depois da visita, como ele nunca mais
voltara a Vairão, a rapariga deduzira que Mem Tougues repetira o que sabia ao
seu tio trava, bem como ao arcebispo Gelmires.
- Ambos querem oferecer a relíqui a sagrada a Afonso VII quando ele se coroar
Imperador. E fui eu que os ajudei. Perdoai-me, príncipe, pois em Vairão, quando
convosco falei, disse-vos que nada sabia, mas não era verdade.
A raiva que vos tinha toldou-me...
Afonso Henriques suspirou, pois o tempo
que já passara desde esse dia tornava a omissão dela quase irrelevante.
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