(Domingos Amaral)
Episódio Nº 257
Enervado, perguntei à minha cunhada:
- Paio Soares não vos revelou o nome do
tal padre?
- Ele garantiu-nos que nunca o marido lhe
dissera quem era o terceiro homem, o que levou Gonçalo à questão seguinte:
- E
como se chama a povoação romana em ruínas?
Chamoa que não dominava o latim, hesitou:
- Selltidum... julgo que era essa a
palavra. Nunca vi o punhal onde meu marido o gravou, foi-lhe roubado em Viseu,
na Páscoa que todos lá passámos.
Afonso Henriques sorriu ao recordar
aqueles dias, e depois contou-lhe que o punhal reaparecera nas mãos de um
templário chamado Rato, que o roubara a Paio Soares em Viseu, e com ele ficara
até à tarde fatídica em
que Zulmira fora degolada pelo assassin.
Tinha sido o príncipe que arrancara o
punhal da mão do Rato e o atirara à garganta do assassin, matando-o.
Suspirando, Afonso Henriques, relembrou
que a arma de Paio Soares desaparecera novamente, na confusão do barracão de
Mem, no meio daquele banho de sangue terrível.
Não mais fora encontrado, apesar das
aturadas buscas realizadas por Ramiro.
- Meu Deus... Quem tiver o punhal do meu
marido pode descobrir a relíqui a! –
afligiu-se Chamoa.
Sentia-se fortemente culpada. Por causa da
sua inconfidência ao primo Mem Tougues, Fernão Peres, o arcebispo Gelmires e
mesmo Afonso VII podiam encontrar aquele poderoso símbolo religioso e vencer a
guerra contra Afonso Henriques e os portucalenses.
Amargurada Chamoa escondeu a cara com as
mãos, choramingando, mas o príncipe aproximou-se dela, fez-lhe uma festa
carinhosa e disse:
- É
bom ter-vos a meu lado. O resto não interessa.
Olhando para a rapariga acrescentou:
-
Temos tempo para procurar o punhal em Coimbra. Ou para descer o Nabão e descobrir essas
ruínas onde meu pai foi antes de morrer.
Contudo, nem eu nem Gonçalo, estávamos tão
certos disso.
O Trava levava-nos vantagem, e o arcebispo
Gelmires, que sempre fora um arrebatador de relíqui as,
não iria perder a oportunidade para deitar a mão a mais um tesouro, ainda por
cima, podendo satisfazer os caprichos imperiais de Afonso VII.
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