quarta-feira, maio 04, 2016

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)

Episódio Nº 257




















Enervado, perguntei à minha cunhada:

- Paio Soares não vos revelou o nome do tal padre?

- Ele garantiu-nos que nunca o marido lhe dissera quem era o terceiro homem, o que levou Gonçalo à questão seguinte:

 - E como se chama a povoação romana em ruínas?

Chamoa que não dominava o latim, hesitou:

- Selltidum... julgo que era essa a palavra. Nunca vi o punhal onde meu marido o gravou, foi-lhe roubado em Viseu, na Páscoa que todos lá passámos.

Afonso Henriques sorriu ao recordar aqueles dias, e depois contou-lhe que o punhal reaparecera nas mãos de um templário chamado Rato, que o roubara a Paio Soares em Viseu, e com ele ficara até à tarde fatídica em que Zulmira fora degolada pelo assassin.

Tinha sido o príncipe que arrancara o punhal da mão do Rato e o atirara à garganta do assassin, matando-o.

Suspirando, Afonso Henriques, relembrou que a arma de Paio Soares desaparecera novamente, na confusão do barracão de Mem, no meio daquele banho de sangue terrível.

Não mais fora encontrado, apesar das aturadas buscas realizadas por Ramiro.

- Meu Deus... Quem tiver o punhal do meu marido pode descobrir a relíquia! – afligiu-se Chamoa.

Sentia-se fortemente culpada. Por causa da sua inconfidência ao primo Mem Tougues, Fernão Peres, o arcebispo Gelmires e mesmo Afonso VII podiam encontrar aquele poderoso símbolo religioso e vencer a guerra contra Afonso Henriques e os portucalenses.

Amargurada Chamoa escondeu a cara com as mãos, choramingando, mas o príncipe aproximou-se dela, fez-lhe uma festa carinhosa e disse:

 - É bom ter-vos a meu lado. O resto não interessa.

Olhando para a rapariga acrescentou:

 - Temos tempo para procurar o punhal em Coimbra. Ou para descer o Nabão e descobrir essas ruínas onde meu pai foi antes de morrer.

Contudo, nem eu nem Gonçalo, estávamos tão certos disso.

O Trava levava-nos vantagem, e o arcebispo Gelmires, que sempre fora um arrebatador de relíquias, não iria perder a oportunidade para deitar a mão a mais um tesouro, ainda por cima, podendo satisfazer os caprichos imperiais de Afonso VII.

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