quinta-feira, julho 21, 2016

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)


Episódio Nº 48






















Chamava-se Velho, estiver vários anos em Soure e regressara no verão, trazendo com ele o célebre punhal de paio Soares. Agora seria o que fora no passado, um leal servidor, capaz de cumprir qualquer ordem, até degolar mulheres e crianças.

Estas palavras provocaram um arrepio no Tougues, que conhecia as ameaças do tio a Chamoa e por isso o questionou:

- Irá matar alguém em Tui?

Fernão Peres ignorou a questão do sobrinho e informou-o das novas ordens de Afonso VII, decididas em Compostela, avisando-o:

- Chamoa não as pode saber.

O Trava temia que a sobrinha usasse o mesmo expediente do anterior Natal, oferecendo-se a Mem Tougues para em troca saber os planos contra Afonso Henriques.

- Tereis de tomá-la de boca fechada.

Mem Torres mordeu o lábio, sentindo-se encurralado. Não sendo estúpido percebera que a prima lhe fechara as pernas desde que ele suspendera as revelações.

Sempre vaidoso, compôs o novo balandrau azul, enquanto dava voltas à cabeça para resolver o imbróglio de dormir com Chamoa sem lhe bufar os segredos do tio.

Inesperadamente a ocasião surgiu na noite de Natal. A dada altura os homens ficaram sozinhos a conversar. A Mem Tougues e ao anfitrião Gomes Nunes – que tinha a seus pés o neto mais velho, Pêro Pais, filho de Chamoa e Paio Soares – juntavam-se os irmãos Bermudo e Fernão, tendo este último revelado que o ataque a Celmes seria revelado pelo próprio Afonso VII.

Prevista para o início da primavera, a operação exigia a participação de soldados de Gomes Nunes caso contrário o monarca considerava-o um traidor e viria também cercá-lo a Tui.

Atrapalhado, o pai de Chamoa mandou o neto sair da sala, pois não queria assustá-lo com conversas guerreiras. Depois, invocou a sua difícil situação se alinhasse com um dos Afonsos, teria de se haver com o outro.

Escolhei: Afonso VII ou Afonso Henriques! – exigiu o Trava.

Perante este desagradável dilema, Gomes Nunes acabou por ceder. Ajudaria o Trava e Afonso VII pois ainda estava agastado pela forma como Afonso Henriques o destratara em São Mamede.

Mas tendes de manter segredo – acrescentou Fernão Peres.

Relembrou ao pai de Chamoa as suspeitas que tinha sobre as lealdades desta e informou-o que um homem da sua confiança, o Velho, iria vigiá-la em permanência em Tui.

Gomes Nunes sentiu-se afrontado; a filha seria tratada como uma prisioneira no castelo do próprio pai? Orgulhoso, ripostou, alegando que os seus soldados podiam guardá-la, mas o Trava impôs a sua vontade.

À hora da ceia, o Tougues ficou desapontado pois não viu Chamoa. Inquieto aproximou-se de Elvira Peres, que lhe disse que a filha fora deitara Pêro Pais, acrescentando com matreirice:

 - Esperai um pouco, levai-lhe vinho galego.

Com um olhar guloso que arrepiou o Tougues, rematou:


 - Todos precisamos de homem de vez em quando... 

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