(Domingos Amaral)
Episódio Nº 48
Chamava-se Velho, estiver
vários anos em Soure e regressara no verão, trazendo com ele o célebre punhal
de paio Soares. Agora seria o que fora no passado, um leal servidor, capaz de
cumprir qualquer ordem, até degolar mulheres e crianças.
Estas palavras provocaram um
arrepio no Tougues, que conhecia as ameaças do tio a Chamoa e por isso o
questionou:
- Irá matar alguém em Tui?
Fernão Peres ignorou a
questão do sobrinho e informou-o das novas ordens de Afonso VII, decididas em
Compostela, avisando-o:
- Chamoa não as pode saber.
O Trava temia que a sobrinha
usasse o mesmo expediente do anterior Natal, oferecendo-se a Mem Tougues para
em troca saber os planos contra Afonso Henriques.
- Tereis de tomá-la de boca
fechada.
Mem Torres mordeu o lábio,
sentindo-se encurralado. Não sendo estúpido percebera que a prima lhe fechara
as pernas desde que ele suspendera as revelações.
Sempre vaidoso, compôs o
novo balandrau azul, enquanto dava voltas à cabeça para resolver o imbróglio de
dormir com Chamoa sem lhe bufar os segredos do tio.
Inesperadamente a ocasião
surgiu na noite de Natal. A dada altura os homens ficaram sozinhos a conversar.
A Mem Tougues e ao anfitrião Gomes Nunes – que tinha a seus pés o neto mais
velho, Pêro Pais, filho de Chamoa e Paio Soares – juntavam-se os irmãos Bermudo
e Fernão, tendo este último revelado que o ataque a Celmes seria revelado pelo
próprio Afonso VII.
Prevista para o início da
primavera, a operação exigia a participação de soldados de Gomes Nunes caso
contrário o monarca considerava-o um traidor e viria também cercá-lo a Tui.
Atrapalhado, o pai de Chamoa
mandou o neto sair da sala, pois não queria assustá-lo com conversas
guerreiras. Depois, invocou a sua difícil situação se alinhasse com um dos
Afonsos, teria de se haver com o outro.
Escolhei: Afonso VII ou
Afonso Henriques! – exigiu o Trava.
Perante este desagradável
dilema, Gomes Nunes acabou por ceder. Ajudaria o Trava e Afonso VII pois ainda
estava agastado pela forma como Afonso Henriques o destratara em São Mamede.
Mas tendes de manter segredo
– acrescentou Fernão Peres.
Relembrou ao pai de Chamoa
as suspeitas que tinha sobre as lealdades desta e informou-o que um homem da
sua confiança, o Velho, iria vigiá-la em permanência em Tui.
Gomes Nunes sentiu-se
afrontado; a filha seria tratada como uma prisioneira no castelo do próprio
pai? Orgulhoso, ripostou, alegando que os seus soldados podiam guardá-la, mas o
Trava impôs a sua vontade.
À hora da ceia, o Tougues
ficou desapontado pois não viu Chamoa. Inqui eto
aproximou-se de Elvira Peres, que lhe disse que a filha fora deitara Pêro Pais,
acrescentando com matreirice:
- Esperai um pouco, levai-lhe vinho galego.
Com um olhar guloso que
arrepiou o Tougues, rematou:
- Todos precisamos de homem de vez em
quando...
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