(Domingos Amaral)
Episódio Nº 60
Todos os familiares de Sohba
tinham morrido, desde o pai Hixam III, o último califa de Córdova, até ao irmão
Hisham de Hisn, passando por uma filha que a criada nunca conhecera e que se
dizia ter falecido jovem, sendo essa a primordial razão da loucura de Shoba.
A criada apontou um olhar
triste na direcção dos túmulos e comentou:
- Uma grande desgraça abraçou os Bem Ummeya.
Depois de um suspiro,
prosseguiu:
- Quem larga um trono, como Hisham III fez,
condena a família.
A idosa acrescentou que o
maldito Ali Yusuf não descansaria enquanto não os degolasse a todos.
- Já aviou Zulmira e Taxfin,
só faltam as minhas meninas.
Com o olhar embaciado que
sempre exibia, aconselhou Zakaria:
- Ide falar com Ismar. É andaluz e é fino,
hábil e firme. Desde Taxfin que não se via governador tão bom em Córdova.
De seguida, a celha criada
descreveu ao cordovês o que se estava a passar na Andaluzia muçulmana, que
sofria uma inesperada mutação.
Sinto-o, pela primeira vez
em muitos anos.
Mesmo aquela mulher, que
vivia em Hisn como um eremita, notara o califado de Ali Yusuf em perda. O respeito ao
reino de Marraquexe já não era o de outrora.
Pelas taifas de Sevilha,
Córdova, Mértola ou Badajoz corria já um claro, embora ainda ténue, rumor de
revolta.
Ismar sabe do que falo –
avisou a criada.
Incentivado por ela, Abu
Zakaria foi ao encontro daquele príncipe de Córdova, que viria a ser um dos
mais ferozes inimigos de Afonso Henriques e do nosso futuro reino de Portugal-
Córdova, Fevereiro de 1133
- Já vos esperava.
O Governador levantou-se ao
ver Abu Zakaria entrar no seu salão privado, situado no primeiro andar do
magnífico Azzahrat.
Construído dois séculos
antes pe3lo mãos célebre califa da Andaluzia, o valorosa e sapiente Abd al Rahman
III, aquele grandioso palácio destinara-se a albergar o detentor do trono de
Córdova e a sua família, os seus infindáveis criados e o seu bem recheado
harém.
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