Ontem, Portugal, teria feito a felicidade de Nero, o que foi imperador de Roma, meio tonto, mais tonto que meio.
A avaliar pelas imagens da televisão, o país era um fogo pegado
e a ilha da Madeira uma tocha acesa no meio do Atlântico.
É o drama do costume, uns anos mais, como é agora o caso, outros
menos, mas quando chega por estas alturas, desata tudo a arder.
Há momentos em que chego a pensar: “prontos”, ardeu tudo, para o ano
que vem não há fogos... mas é engano meu. Se há coisa que se dá bem neste país
são os fogos, nascem e renascem, teimosos, nunca morrem definitivamente.
Nem sempre foi assim, que eu lembro-me quando era jovem e
passava as férias de Verão na aldeia dos meus avós que era no campo, na província
da Beira-Baixa, ainda não havia televisão e tudo se passava como em qualquer
outra época apenas com mais calor, dias maiores e sem chuva.
Quanto ao resto, quais fogos, quais carapuça, não me lembro nem
de um.
- Mas então, por quê? – A resposta é simples e curta: a vida era
diferente e o país era outro.
Lembro-me, ainda, que tempos antes, tinha aparecido em Portugal,
uma árvore nova a que a minha avó chamava de “calitres”, talvez porque na sua
criação ainda não as havia muito em Portugal, tendo começado a sua disseminação
em finais do Séc. XIX.
Desenvolvia-se rapidamente de tal forma que, diziam
maliciosamente, que os seus donos estavam na cama e o pau a crescer. Para além
disso, quando os cortavam rebentavam dois e três.
Para além disto o eucalipt o
tem a particularidade de fingir que arde mas não arde, volta a rebentar e as
suas folhas são setas de fogo apontadas às outras árvores, para elas não se
ficarem a rir...
Mas há uma outra razão, mais importante: os homens e mulheres da
minha meninice, para o bem ou para o mal, mas de certo contra a vontade daquela
que era a vontade de Salazar, abandonaram os campos, deixaram as árvores
entregues a si próprias, cheias de mato à sua volta que deixou de ser cortado
porque já não servia para a cama dos animais que, entretanto, foram substituídos
pelos tractores.
Foi o princípio de uma nova vida que, entre outras coisas,
trouxe consigo a praga anual dos fogos.
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