(Domingos Amaral)
Episódio Nº 58
Pouco antes de chegar ao
portão do belo e original castelo de arenito vermelho, perdido nos contrafortes
da Serra Morena, passara perto de um pequeno mausoléu, o túmulo de Benu Ummeya
onde sabia repousarem os restos mortais de vários elementos da família.
Lá estavam enterrados Hixam
III, o último califa de Córdova, bem como o seu filho, Hixam de Hisn, primeiro
marido de Zulmira e pai de Fátima e Zaida.
E lá estavam também Taxfim,
antigo governador de Córdova e segundo marido de Zulmira bem como esta última,
que depois de assassinada em Coimbra, fora para ali levada pelo almocreve Mem.
A morte e a tragédia
ensombravam a história dos Benu Ummeya.
No presente, restavam apenas
as duas princesas presas em
Coimbra. Os épicos sonhos do passado, a qui mera de ressuscitar o glorioso califado de
Córdova, sempre alimentado por Zulmira e Taxfim não passava agora de uma
fantasia cruel.
Aquela espantosa família que
durante trezentos anos reinara em toda a Andaluzia, perdera a força vital, pois
o maldito califa Ali Yusuf aniqui lara
os seus pilares.
Que podia Abu Zakaria contra
aquele almorávida asqueroso e vingativo? Ou contra o emergente poder de Afonso
Henriques no Condado Portucalense?
A sua derradeira esperança
era o actual governador de Córdova, Ismar, um árabe andaluz que conhecia os
seus esforços para resgatar as
princesas.
Será que ele ainda se
lembraria de Abu Zakaria, o fiel ajudante de Taxfim? O poder mudava os homens.
Sendo Ismar o actual Wali de Córdova, não era certo que o
auxiliasse, pois provavelmente, tinha excelentes relações com Ali Yusuf.
Mais um que se vendera? Abu
não sabia, mas Ismar era a última esperança.
Nas taifas de Badajoz,
Mértola ou Sevilha, os governadores eram berberes, almorávidas leais ao califa.
Qualquer menção à reabilitação da família Nenu Ummeya equi valia
a uma condenação à morte.
E mesmo noutras cidades,
como Beja, Lisboa ou Santarém, eram curtos os apoios para a romântica causa da
ressurreição do califado de Córdova, poucos mostravam a coragem para se oporem
ao invencível e aterrorizador califa de Marraquexe.
Zakaria desmontou e apreciou
His Abi Cherif. O pequeno castelo estava limpo, as árvores podadas, a lareira
acesa, saía fumo da chaminé. O guerreiro cordovês concluiu que a velha criada
de Zulmira continuava viva precisamente no momento em que ouviu uma voz, nas
suas costas.
Não as trazeis de volta.
Abu voltou-se, de mão no
cabo do alfange, mas logo o largou ao ver que quem lhe falava era mulher idosa
e curvada, de andar lento e olhar vago, que se aproximou dele e perguntou,
preocupada:
- Morreram?
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