(Domingos Amaral)
Episódio Nº 64
Depois de praguejar, o wali de Córdova concluiu com nova previsão.
- Se não fosse Temin e a sua
guarda sangrenta, o califado de Marraquexe ruiria em poucos meses! Assim, vai
demorar uns anos.
Perante tal desagradável cenário,
Ismar defendeu que os muçulmanos andaluzes, tinham de tentar acelerar o lento
apodrecimento do poder dos almorávidas.
Se conseguissem colocar
gente de confiança como o walis de
Sevilha e Saragoça, poderiam disputar o futuro.
E Santarém também terá de
cair para o nosso lado – murmurou Ismar, olhando fixamente o seu interlocutor.
- Qual a vossa sugestão? –
perguntou Zhakaria, curioso.
Com um sorriso, Ismar, levantou-se
do seu cadeirão e, sentindo, talvez, que ainda não chegara o momento das
revelações, perguntou:
- Vamos comer?
Inesperadamente, levantou-se
a declamar versos na sua voz forte mas nem por isso menos melodiosa:
Eu só quero que me fales
Das cantigas e do vinho
Deixa lá e não te rales
Deus perdoa o descaminho!
Deixa essa gente vã
Com promessas e intrigas
Elas não interessam nada
Pois o meu maior afã
É beber minha golada
De vinho na tarde vã
Ao som das belas cantigas!
Zhakaria riu-se enquanto o
governador fazia uma vénia como se agradecesse uma ronda de aplausos,
proclamando em seguida:
- De autoria de Al – Mutamid, antigo rei de Sevilha!
Ao ver Zhakaria franzir a
testa, esclareceu:
- Sim, era o pai de Zaida de Sevilha e o avô
de Zulmira. Foi, portanto, o bisavô de Fátima e de Zaida!
Depois, piscando o olho,
acrescentou:
- E grande apreciador de levar na peideira!
Era conhecida a paixão por
mancebos do célebre e já falecido monarca de Sevilha, mas Ismar não elaborou
mais sobre o assunto, enquanto conduzia o seu convidado pelos corredores de
Azzarhat, pejados de vasos dourados e com as pardes forradas de belas pinturas.
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