(Domingos Amaral)
Episódio Nº 63
- É mesmo verdade o que
dizem... – comentou Ismar ao vê-lo ruborescer – não desejais honrarias? Fortuna?
Um castelo?
O humilde cordovês suspirou,
concedendo que a sua existência se reduzira ao objectivo de resgatar as
princesas, mas Ismar logo o interrompeu, declarando que devia tentar preencher
os sinais emitidos pelos indígenas de Santarém.
- Sois respeitado pelas gentes,
é importante.
Dito isto, o governador de Córdova,
examinando o estado da Andaluzia. A maior parte das taifas, como Sevilha,
Saragoça, Mértola ou Badajoz, não passava de meras kuras, embora algumas ambicionassem ascender a emiratos.
O tontinho que manda em
Sevilha, por exemplo, obriga os súbitos a chamarem-lhe emir! É um reles rato
que tem a mania de que é leão.
Berbere e ambicioso, mas
estúpido, é mais uma marioneta de Ali
Yusuf que se julga destinada a grandes voos!
Aos poucos, Zhakaria,
confirmou o que lhe dissera a criada: Ismar já não admirava o Califa, embora
ainda se submetesse a ele.
E, sobretudo, odiava os
berberes que governavam as restantes cidades andaluzes, que dizia não servirem
nem para lavar as escadas dos palácios!
Aqueles incompetentes walis tinham o futuro incerto,
profetizou o governador, sem o apoio militar de Ali Yusuf cairiam como folhas
secas no Outono.
A pressão que os cristãos
continuavam a fazer, tanto Afonso VII, a partir de Toledo, como Afonso I de
Aragão, próximo de Saragoça, obrigara o califa a enviar o próprio irmão, Temin,
para comandar as forças Almorávidas.
Nem o grande chefe, mas o
terror que os berberes inspiram ainda cala muita gente – rematou Ismar.
Além disso, em África
existiam já relevantes revoltas contra o califado Marraquexe. Nas montanhas e
nos desertos, uma nova seita, os almoádes, contestava os almorávidas.
Com interpretações
diferentes do Corão e uma vontade enfurecida de recusar o jugo de Ali Yusuf, os
almoádas, que se intitulavam “unitários”, eram uma infecção que alastrava e
contaminava os territórios antes pacificados e submissos do califa berbere.
O actual líder espiritual e
militar da nova seita de seu nome Abdul – Mumen, que sucedera ao fundador e
primeiro profecta Al-Mahadi, já falecido, tivera a impensável ousadia de se
declarar igualmente califa, provocando um cisma no império dos almorávidas e de
Ali-Yusuf.
- Pressão a norte, dos cristãos,
pressão a sul e a leste, dos almoádas, e representantes palermas na Andaluzia! É
o que tem Ali-Yusuf.
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