(Domingos Amaral)
Episódio Nº 54
Guimarães. Dezembro de 1132
Precisamente no mesmo dia em
que as anteriores peripécias ocorriam em Tui, nós festejávamos o nosso último
Natal pacífico numa Guimarães engalanada para as festividades.
Há quatro anos e meio que
não havia guerra no condado Portucalense, contrariando as promessas bélicas do
Trava.
Afonso VII, primo direito de
Afonso Henriques, parecia alheado dos destinos do Condado, aparentemente
esquecido da recusa do nosso príncipe em prestar-lhe vassalagem, o que nos
permitia quatro anos de bonança.
A prosperidade era visível
em todo o lado. Os inúmeros mendigos que antes percorriam Coimbra, Viseu ou
Guimarães, em busca de alívio dos seus sofrimentos, quase haviam desaparecido.
O povo, sobretudo os
agricultores, enfrentava menos dificuldades do que no passado. As sensatas
decisões de Afonso Henriques tinham melhorado as colheitas e os almocreves
circulavam livremente nas antigas estradas que os romanos deixaram construídas.
Sinal de que as balbúrdias
do passado estavam suspensas, era também a explosão de crianças que se notava.
Nas pequenas aldeias, nas almedinas dos principais castelos, corriam petizes
alegres e centenas de mães carregavam bebés ao colo, felizes por os poderem
alimentar e sem temores quanto ao futuro da região.
Mesmo entre os ricos-homens
e os infanções se multiplicavam os nascimentos e também no nosso círculo íntimo
havia agora uma nova fornada de novos representantes das famílias.
O Braganção, nosso amigo e
senhor de Bragança, já apresentava dois rebentos de sua esposa, a irmã do
príncipe, Sancha Henriques, que a maternidade parecia ter amansado, contendo o
seu carácter quezilento.
Meu pai. Egas Moniz, tivera
também dois petizes, da sua segunda esposa, Teresa de Celanova; e eu próprio
era pai de um primeiro filho da minha Maria Gomes, que já esperava um segundo.
A juntar a esses, no Castelo
de Guimarães, morava também a filha de Afonso Henriques e Elvira Gualter, a
quem o príncipe chamava de Elvira, como a sua mãe normanda, que se somava às
irmãs do príncipe, Sancha e Tereza de Trava, filhas de dona Teresa e de Fernão
Peres.
O nosso Natal, passava-se
pois, repleto de choros infantis e atenções redobradas com recém-nascidos e foi
também por isso que, pelo segundo ano consecutivo fui a Tui com a família
Trava.
Tempos depois mortifiquei-me
fortemente por pensar que tinham sido as minhas decisões que nos haviam
prejudicado, mantendo-nos na ignorância sobre os planos de Afonso VII e do
Trava.
Mas naqueles derradeiros
dias de alegria e paz em Guimarães, Celmes era só um grande motivo de orgulho.
Por paradoxal que fosse, apenas o nosso amigo Gonçalo de Sousa, que o príncipe
elegera como alcaide desse castelo, não se mostrou contente ao confrontar-se
com aquele mosaico de felicidade,
Apesar de nos ter saudado
com o seu habitual tudo espeta? - acrescentou, desapontado, que, pelos
vistos, se espetava demais!
- Todos cheios de filhos e
eu desterrado em Celmes! – protestou.
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