(Domingos Amaral)
Episódio Nº 53
Agarrou-a pelos cabelos e
num gesto rápido, que Chamoa não conseguiu suster, obrigou-a a virar de costas
para ele e encostou-a à parede.
Depois, voltou a levar o
punhal ao seu pescoço e forçou-a a permanecer qui eta.
Chamoa sentiu a mão esquerda dele a levantar-lhe a saia e tentou dar um pontapé
para trás, mas o Velho aplicou-lhe uma pancada nas costelas que a deixou com
dificuldades de respirar.
- Quieta cabrita – ordenou o
Velho erguendo-lhe as saias.
A rapariga sentiu-o remexer
nas roupas interiores e começou a chorar, impotente para o parar. Ouviu-o
murmurar outra vez junto do seu ouvido:
- Vais levar com ele.
Quando o Velho estava já a
soltar as calças, preparando-se para a penetrar, ouviu-se uma voz de criança, à
entrada do estábulo.
Mãe? Estás aqui ?
Chamoa nem queria acreditar,
era seu filho, Pêro Pais!
Gritou-lhe de imediato,
dando-lhe instruções!
- Pêro, ide chamar meu pai,
depressa!
O Velho compreendeu que não
conseguiria dominar os dois ao mesmo tempo. Ou permanecia com Chamoa, caso em que Pêro Pais teria tempo de
avisar o avô, ou corria para agarrar o menino, caso em que Chamoa gritaria por
socorro.
Enervado, deu uma pancada
com o cabo do punhal, deixando-a atordoada enquanto desaparecia pelos fundos do
estábulo.
Atarantada, a minha cunhada
cambaleou até à porta, onde um aflito Pêro Pais a abraçou e logo qui s saber o que ali se passara.
Meu querido filho!
Chamoa ainda tremia de
raiva, de medo, de frustração, mas não desejou assustá-lo mais, dizendo-lhe
apenas que fora descoberta a fugir pelo lacaio do Trava.
Magoou-vos? – perguntou o
menino, preocupado.
Mais calma, Chamoa suspirou
e respondeu:
- Só no orgulho.
Abraçou o filho que ao vê-la
mais serena, a mirou com um ar desapontado e lavrou o seu protesto:
- Haveis tentado fugir sem mim.
Naquele instante, Chamoa
percebeu que, bem mais grave do que ter sido abalroada por aquela sinistra
criatura, era ter provocado uma desilusão no seu amado filho mais velho.
Por isso, pediu-lhe
compreensão e desculpa, justificando-se com o receio das agruras de uma fuga
invernal. O filho escutou-a com atenção e no final limitou-se a um pedido:
- Da próxima vez levai-me convosco.
Chamoa sorriu, orgulhosa. No
meio das desagradáveis ocorrências que lhe atazanavam a vida, a existência
daquele menino corajoso, esperto e leal era um bálsamo de valor incalculável.
O meu sobrinho era um rapaz
único e raro, dotado de grandes qualidades que muito nos iria ajudar. Pouca
gente sabe disso e lhes dá o devido valor, mas foram as nossas crianças, os
primeiros filhos de Portugal, que nos fizeram acreditar no futuro.
Por elas, valia a pena ir ao
inferno, numa terrível viagem que ia começar...
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