(Domingos Amaral)
Episódio Nº 51
Para aquele decidido menino,
o essencial era informar Afonso Henriques das manigâncias do Trava e de Afonso
VII. Não podiam deixar que os leoneses, castelhanos e galegos destruíssem o
novo castelo dos portucalenses!
- Enviamos um pombo ao tio
Lourenço Viegas - sugerira Pêro Pais.
Chamoa suspirara,
desalentada. Da primeira vez que tentara semelhante estratégia fora descoberta
pelo tio e agora a vigilância era apertada, tinha à perna um mostrengo leal ao
Trava.
- Pêro, tendes de dormir –
dissera por fim.
Na sua imaginação já
fervivilhava a decisão de correr ao estábulo, montar um cavalo e partir à
desfilada, rumo ao adorado príncipe.
Aconteça o que acontecer,
amo-vos muito – dissera ao petiz.
Este, desconfiado,
perguntou-lhe se ela ia fugir, mas Chamoa negou perempt ória,
ficando junto a ele até adormecê-lo. Agora, já a chegar às cavalariças,
mortificava-se por ter mentido.
Desculpai-me, meu filho...
Um arrepio de medo
percorreu-lhe a espinha ao escutar o chiar da porta do estábulo. Alguém podia
acordar, se fizesse barulho. Lentamente avançou na direcção do seu cavalo. Foi
quando o selava que voltou a estremecer, escutando a porta a ranger mais uma
vez.
Tenho medo...
Susteve a respiração e
deixou-se ficar qui eta, concluindo
que talvez fosse o vento a abanar a porta. Como nada mais ouviu pegou no cavalo
pela rédea e obrigou-o a dar meia volta, mas nesse momento um vulto surgiu à
sua frente e ela gritou, aterrada.
No escuro do estábulo, não
conseguia ver mais do que os contornos de uma vaga silhueta masculina.
- Prendei o cavalo – ordenou
uma voz áspera.
- Quem sois? – inqui riu Chamoa.
O homem deu um passo em
frente e ela viu um rosto envelhecido, uns olhos concentrados, era o vigilante
do Trava.
- Afastai-vos da minha
frente - berrou – Ou mato-vos!
A intenção, um pouco tonta
dadas as circunstâncias, levou o Velho a soltar uma risada, desprezando a falsa
determinação dela.
- Com quê? – com as vossas mãos
de passarinho?
Chamoa tremeu de nervosismo.
Não estava armada, não via por ali nem sequer um pau ou uma enxada, nada com
que atingir o desagradável servo do tio.
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