segunda-feira, agosto 01, 2016

O drama das memórias que se vão perdendo...
As Memórias

















Admiro um pintor que olha a paisagem, seja ela urbana ou rural, e consegue reproduzir na tela o que os seus olhos vêm.

Tendo nascido, como a maioria das pessoas, sem jeito para desenhar ou pintar, reconforta-me saber que há aquelas que têm esse dom: reproduzir, no papel ou na tela, o que vêem.

E o que dizer dos artistas que se fecham nos seus ateliers e pintam o que as suas memórias registaram e lhes ditam?

- Pois, as memórias...

Aos setenta e sete anos, o que se tem de verdadeiramente nosso e de valor, são as memórias, não para as passar para uma tela sob a forma de uma pintura que, para tal. falta a habilidade à maioria de nós, mas para as recriar em pensamento.

Não temos essa percepção enquanto vivemos o período activo das nossas vidas mas, na verdade, o que andámos a fazer foi recolher material para alimentar mais tarde, na velhice, por que não dizê-lo, as nossas memórias, mesmo que as distorçamos, deformemos, como muitos pintores fazem nos seus quadros, como a nossa Maria Helena Vieira da Silva, quando reproduziu em tela as praias das Maçãs, da Adraga ou da Aguda, que frequentava enquanto menina.

Olhando para esse quadro, denominado La Mer (1961), nada lá vemos das praias que visitamos no Verão, e temos muitas à escolha no nosso país, porque aquela praia é a da memória de Maria Helena Vieira da Silva.

Ela “brinca”, em tela, com as praias da sua memória como eu também posso brincar com as memórias da minha vida. Tal como ela fez na pintura, também eu as posso distorcer e deformar.

A vida é o que é... não há volta a dar-lhe, mas as memórias que dela guardamos podem sê-lo ou não.

 Por isso, eu prefiro as memórias: são minhas, a vida não é nem nunca o foi...

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