terça-feira, janeiro 24, 2006

VIVA O NOVO PRESIDENTE

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As eleições já foram. A 9 de Março vamos ter um novo Presidente e de seguida, esperemos, três anos e meio sem campanhas, nem bandeirinhas, nem ajuntamentos, nem telejornais repetitivos com os candidatos a dizerem sempre as mesmas coisas, nem aquelas cenas indecorosas de beijinhos e abraços que até me deixam arrepiado, e a que os políticos chamam de contacto com o povo, a parte mais nobre da campanha e que a mim me parecem ser resquícios primitivos da “eleição do chefe”.
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Com as modernas formas de fazer chegar com requintes de qualidade a palavra e a imagem dos candidatos a todos os cidadãos eleitores, quantos anos terão ainda que passar para que a eleição dos governantes possa dispensar estas cenas a que agora chamam de arruadas, e que até são perigosas para os candidatos do ponto de vista da saúde pública com tantos micróbios a passearem na intimidade dos beijinhos e abraços?

Será que acrescenta alguma coisa ao candidato a futuro Presidente deixar-se beijar, abraçar e apalpar?

Ou será apenas mais um teste à capacidade de resistência às manifestações de afecto sem a qual nenhum candidato poderá assumir o cargo e voltamos novamente à “eleição do chefe” no tempo dos heróicos gauleses da aldeia do Astérix. O qual depois de eleito se fazia transportar em cima de um escudo suportado aos ombros de dois valentes guerreiros?

E se assim é, porque razão ficou o Dr. Mário Soares em terceiro lugar destacado quando ele foi o mais beijado e abraçado, para já não falar de uma declaração de amor de uma fã, também ela já bem entradota na idade?
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Para mim, as campanhas, às quais se juntam agora as pré-campanhas, constituem os momentos eróticos e apaixonados da vida democrática que no caso concreto do Dr. Mário Soares, como ele oportunamente chamou a atenção, foi vivido “sem rede”, ou seja, sem seguranças para que a exposição e o risco do candidato fosse total.

Pelos resultados obtidos parece que estes momentos de arrebatamento emocional valem o que valem e, neste caso, para o Dr. Mário Soares, valeram muito pouco e naturalmente muitos, enquanto o abraçavam, já estavam a pensar dar o seu voto ao camarada Manuel Alegre porque o mundo dos afectos está cheio de traições, característico da instabilidade dos sentimentos que agora se fixam aqui para logo de imediato partirem para outra.

Um voto pode ser considerado, de certa forma, uma “declaração de amor” em que a cruzinha significa “caso contigo” e se não for mesmo por motivos de amor, pode ser por simples conveniência do género - “aquele é o partido que mais me convém”; por razões de conjuntura; por ser menos mau que os outros; por me inspirar mais confiança ou até por ser de boas famílias e ter um passado que o recomende.

Pessoalmente, não tenho nada contra os casamentos por interesse e recordo até, a este propósito, a história do actor de cinema dos anos sessenta - Mickey Rooney que casou oito vezes, as sete primeiras por amor, que resultaram em ligações tumultuosas e de curta duração.
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Finalmente, cansado de tanto fracasso matrimonial, casou-se por interesse, ou seja, analisou a pessoa, estudou o seu passado, avaliou-a no seu carácter, estudou as suas qualidades e defeitos, levou em linha de conta a sua própria situação e zás, pôs a cruzinha, que é como quem diz, casou-se… e, finalmente, foi feliz.

Quantas cruzinhas não terão sido postas no Boletim de Voto assinalando o candidato Cavaco Silva exactamente pelas razões que terão levado Mickey Rooney ao oitavo casamento?

Sim, porque por amor e algum dele indefectível, foram as cruzinhas no Jerónimo e também, vamos lá, no Francisco e isto porque, nesta história das cruzinhas, voto que não conduza ao poder é como casamento que não conduz à felicidade. Ficamo-nos nos “entretantos” a remoer a ligação e a pensar que se “a nossa” é mais feia pelo menos é “a nossa”

Cavaco Silva era considerado pela generalidade dos portugueses um “bom partido” para estas eleições e estranhou-se até que a sua vitória à primeira volta, tivesse sido tão tangencial mas se pensarmos que na nossa qualidade de latinos somos fortemente sentimentais e predestinados às ligações amorosas, fácil é de perceber aquele milhão e tal de cruzinhas que o Manuel recebeu.

Depois, também há que levar em linha de conta que em política, falar da Pátria é como falar de Amor ao som dos violinos, e quem não gosta que lhe falem de amor especialmente com aquela voz quente e profunda do nosso amigo Manuel, propensa a arrebatar os corações mais sensíveis?

Umh!…dessem-lhe mais uns diasitos para ele refinar o discurso e o tom de voz, e lá iria por água abaixo a vitória à primeira do Aníbal!

Mas não, temos Presidente e isso é que interessa.

Em democracia ganha quem tiver, pelo menos, metade mais um dos votos válidos entrados nas urnas. É como no ténis, bola que toca na linha é tão válida como aquela que bate meio metro dentro e daqui por uns meses ninguém se lembrará de argumentar com os 0,6 dos 50% até porque, se houvesse uma 2ª volta, a minha intuição é que o Aníbal daria uma cabazada pela simples razão de que um homem ou uma mulher normal e sensato/a não troca o cônjuge pelo/a amante se tiverem que optar, e muitos dos votos do Manuel cheiram-me a aventura amorosa… mas isto é só a minha intuição.

Mas apreciei muito “O Movimento Cívico”, na linha daquelas “Relações sem Compromissos” em que as pessoas são livres de estarem ou de partir, sem obrigações, podem falar do que quiserem e como quiserem sem terem que afinar todas pelo diapasão do maestro, o que é tudo muito bonito para um fim-de-semana no campo antes de se regressar às obrigações da 2ª feira.

E as obrigações da 2ª feira constituem a realidade dos portugueses, realidade dura, que vai exigir mais sacrifícios que vão, naturalmente, recair sobre os suspeitos do costume porque essa de “os ricos que paguem a crise” é conversa para o Movimento Cívico ao fim-de-semana no campo.
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José Sócrates tem maioria absoluta e vai ter um Presidente que sabe muito bem que os portugueses têm andado a viver acima das suas possibilidades, ou seja, gastando mais que a riqueza que produzem quando, ainda por cima, muita dessa riqueza era falsa e já partiu ou está a partir para outros lados por força da deslocalização empresaarial que só obedece às regras do lucro rápido imposto pela globalização predatória do nosso tempo, ié, pelo turbo-capitalismo que é, como sabemos, selvagem. Aqui as pessoas contam pouco, ou quase nada.

Resta-nos emagrecer, quero dizer, ajustar os nossos gastos ao que realmente temos e partir com inteligência, confiança e por que não com optimismo, para a produção de uma nova riqueza que não se esfume de um dia para o outro e nos deixe raivosos e frustrados.

Três anos e meio à nossa frente para que a dupla José Sócrates/Aníbal Cavaco possa ficar na história pelo melhor ou pelo pior, a sorte política de ambos está entrelaçada, o sucesso de um será o sucesso do outro e o fracasso será também partilhado pelos dois, no futuro a história julgá-los-à em conjunto.

Os próximos três anos e meio sem eleições, com estabilidade governativa e maioria absoluta parlamentar de um só partido, serão essenciais para esta dupla e para o futuro do país como nenhum outro período terá sido.

É como no ténis: não há vento, o corte é bom e as bolas são novas. Não se aceitam desculpas.

Que os deuses os protejam e a nós também.
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