quinta-feira, julho 27, 2006

NÃO HÁ PALAVRAS




Sabiamente, o jornalista não afastou o microfone enquanto a expressão da jovem senhora se mantinha muda.

As mãos contorciam-se e os seus olhos negros, grandes, com as sobrancelhas bem delineadas, mantinham-se inexpressivos enquanto a boca entreaberta parecia tomar balanço para dizer qualquer coisa.

Finalmente, com nítida relutância, confessou:

“ Não há palavras, todas as palavras que eu pudesse utilizar para me referir aos israelitas seria estar a ofender essas palavras. Chamar-lhes animais seria estar a ofender os animais”

À sua frente, de costas para a câmara, estaria a sua casa destruída, uma casa de pessoas civis, palestinianas, adquirida e mobilada com o trabalho de todos os dias e de todos os anos.

Fiquei preso a este testemunho e à convicção de um terrível dilema para os judeus de Israel: quantas mais guerras ganharem mais pessoas perdem para sempre do outro lado da fronteira e mais inimigos ganham.
Neste conflito há qualquer coisa de errado desde a primeira hora, com dois caminhos divergentes à saída do ponto de partida e em que um deles é ignorado, posto de parte como senão existisse ficando, desta forma, apenas um como o único possível.

Quando os judeus se começaram a instalar na Cisjordânia sabiam que iam ter por vizinhos os árabes que naturalmente viram neles concorrentes que vinham disputar o território, a eles, que já lá estavam.

Numa estratégia de boa vizinhança, elementar a pessoas sensatas, teria competido aos judeus, em primeiro lugar, compreender essa primeira reacção dos árabes e posteriormente, através de políticas efectivas, demonstrar-lhes a vantagem de poderem beneficiar de uma vizinhança mais rica e tecnologicamente mais avançada.

Sem descurarem, naturalmente, o investimento na sua defesa, ali, o melhor investimento teria sido nos seus próprios vizinhos cujos níveis de bem-estar deveriam ter sido sempre motivo de preocupação dos Israelitas.

Ter vizinhos satisfeitos teria sido o grande antídoto para a guerra e a solução para a paz.

O regime do Irão, dos Ayatollahs fanáticos que sonham dirigir um Império religioso na região para daí partirem à conquista do mundo perceberam isso perfeitamente.

Como dizia um outro testemunho no sul da palestina:

“é o hezbollah que me está a construir a casa e a ajudar-me no trabalho, na educação dos filhos, na saúde…” e o dinheiro para todas estas despesas de carácter social vem do Irão que tem tudo menos dificuldades financeiras.

Mas a preto e branco só os filmes e mesmo esses só para certas elites cinéfilas e os enredos em que de um lado estavam os bons e do outro os maus há muito que já não são levados a sério.

O que existe, de facto, são políticas que conduzem as sociedades e o mundo por determinados caminhos e, pressuposto, para certos objectivos.

Quando vejo desfilar nas ruas soldados de deus, vestidos de negro, auto-flagelando-se numa coreografia de povos primitivos e líderes religiosos barbudos, de turbante negro, subirem à tribuna rodeados de seguranças por todos os lados menos por cima apenas porque eles ainda não levitam, fico “pele de galinha”, “vejo” o mundo a andar para trás e a voltarmos aos tempos medievais.

Se considero a política bélica de Israel errada para os próprios interesses dos israelitas e para a paz em toda aquela região, considero, igualmente, altamente perigosa e ameaçadora no futuro para o mundo, a política do Irão e dos seus “enviados” Hamas e Hesbollah.

São políticas que convergem num perigo real para todos nós com a complacência de uma Europa que parece ausente, preocupada consigo própria como se o mundo terminasse a sul, nas praias do Mediterrâneo, e uns Estados Unidos capazes de erros grosseiros e quase infantis como o da invasão do Iraque à procura de umas armas que nunca existiram para além de servirem de “bleuf”a um outro maníaco que vai ser agora, em Outubro, ao que parece, condenado à morte.

E assim vai o mundo e assim vamos nós cada vez com mais dificuldades derivado ao preço do petróleo que com este estado de coisas não para de subir.

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